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SEBASTOPOL – Em Detalhes – Parte III


Uma Patrulha Russa e o Dora

Os homens avançaram em silêncio, o máximo que puderam. Eram comandado por um jovem capitão. Um sargento que os acompanhava, veterano de cem campanhas, perscrutando a obscuridade com seu olhar penetrante…

– Atenção, companheiros, ali há um movimento estranho…- sussurrou debilmente.

O capitão, distribuindo rapidamente seus homens, protegeu-se, por sua vez, no buraco de uma granada. A patrulha tinha uma missão especial. À retaguarda haviam chegado informações pouco tranqüilizadoras. Informações que falavam de um canhão. Mas não de um canhão simples, como todos. Tampouco um canhão que superava em alguns centímetros os que já eram conhecidos. As informações falavam de um monstro. Efetivamente, assim havia qualificado o chefe do grupo encarregado da vigilância do depósito de munições russas de Sewernaja.

O capitão russo, no seu refúgio, meditava. Evidentemente aquela missão não tinha sentido… Para que preocupar-se com um canhão mais, um canhão menos, qualquer que fosse o seu calibre… O depósito de munições estava numa caverna, aberta na rocha viva, a 30 metros de profundidade… Nenhum canhão podia alcançá-lo, era impossível…

Repentinamente um violento resplendor iluminou todo o local. Os homens colaram-se ao solo instintivamente. Uma fração de segundo depois chegou o ruído. Foi um troar que aumentou sua intensidade até converter-se numa detonação, estarrecedora.

A terra estremecia sem cessar, sacudida pelos canhonaços. Violentos relâmpagos rasgavam o espaço. O silvo dos seus projéteis fendia o ar. Um furacão de fogo e aço desencadeou-se contra as posições russas.

Os homens da patrulha começaram a retroceder. Penosamente se arrastaram até suas posições. Faltavam apenas algumas centenas de metros, quando uma detonação, única, incrível, horrenda, partiu das linhas alemães. O Dora havia disparado pela primeira vez.

O famoso Dora, de 80 cm, havia sido projetado, estudado e fabricado para demolir as defesas da Linha Maginot, na França. Contudo, o desenrolar das operações tornou desnecessária a sua utilização. Era, sem dúvida, uma maravilha de técnica de artilharia. Seu comprimento total atingia 30 metros, e seu suporte tinha a altura de uma casa de dois andares. O transporte do Dora e seu equipamento havia requerido a utilização de 60 vagões ferroviários. Duas seções de artilharia antiaérea vigiavam e defendiam o Dora dos ataques da aviação inimiga. O Dora não compensou, como rendimento, seu elevadíssimo custo, porém conseguiu efeitos que pareciam impossíveis: fazer voar um depósito de munições, aberto na rocha viva, a 30 metros de profundidade, por exemplo.

Isto foi Sebastopol

Um piloto alemão que participou da conquista de Sebastopol anotou nas páginas de seu diário pessoal uma visão dessa trágica batalha. Eis aqui suas palavras:

– Do ar, Sebastopol parecia um panorama de batalha esboçado por um pintor. Já nas primeiras horas da manhã, o ar estava repleto de aviões que se precipitavam em picada arrojando suas bombas sobre a cidade. Milhares de bombas – mais de 2.400 toneladas de altos explosivos e 23.000 incendiárias – foram descarregadas sobre a cidade e a fortaleza. Uma só incursão demorava, nada menos, que 20 minutos. Quando se atingia a altura necessária, já se estava sobre o alvo.

– Com a fumaça e o pó, em meio ao rugido das explosões, o campo de batalha era praticamente invisível para nossas tropas em terra; elas viam apenas os bombardeiros lançando-se sobre esse inferno. O angustiante piquê dos Stukas e o silvo aterrador que produziam as bombas ao cair, abalavam o ânimo dos mais valentes. As tropas de assalto, expostas ao calor abrasador de um sol ardente, detêm seu avanço durante alguns minutos que, para os defensores, devem parecer uma eternidade. Os russos aferram-se à terra-mãe com obstinação inigualável. Se não lhes resta escapatória, dinamitam seus fortes e redutos e perecem junto com os atacantes.

– A artilharia antiaérea russa foi silenciada logo nos primeiros dias, e por isso o perigo para os aviões é menor que nos portos do Cáucaso ou nos aeródromos russos. Contudo, nossa tarefa em Sebastopol exige o máximo dos homens e do material; 12, 14 ou até 18 ataques diário foram feitos por cada tripulação. Um Junkers 88 com seus tanques de combustível cheios, faz 3 a 4 ataques seguidos, sem que a sua tripulação deixe o aparelho. Isto significa um desgaste tremendo para os aviões e o pessoal da manutenção, esse anônimos soldados que durante muitos dias e noites não tem um só minuto de descanso.

– Sob o estrondar maciço da avalanche de bombas, o fofo da artilharia pesada do Exército, e os disparos do superobus Thor, mesmo a defesa mais desesperada deve finalmente quebrar-se. Dia após dia, o anel do cerco se estreita. Milhares de alemães e russos perecem nos sangrentos combates corpo a corpo. A terra absorve em torrentes o sangue dos desafortunados soldados…

– O único momento em que reina uma breve calma é quando o sol se deita no mar Negro, e seus últimos raios banham a fortaleza e o porto com um resplendor vermelho-sangue… Isto foi Sebastopol, um nome que ainda hoje desperta terríveis lembranças em todos que ali estiveram. Os atacantes e os defensores lutaram igualmente com uma fúria que poucas vezes repetiu-se em toda a guerra.

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