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Os alemães e o Brasil – A Imigração Alemã – Parte VII – Final


Saída de cima do muro: apoio aos países aliados

Embora identificado com os regimes totalitários europeus, o Estado Novo getulista conservava-se neutro em relação ao conflito que eclodira em 1939, neutro quanto aos Estados liberais e ao nazi-fascismo europeus.

O Brasil possuía uma posição geográfica estratégica, tanto para os norte-americanos, quanto para os alemães. Por isso era de fundamental importância para ambos os países o apoio brasileiro. O país contava ainda com um forte comércio de café com os norte-americanos e com os alemães havia comercialização do algodão, ambos os produtos fortaleciam a e impulsionavam a economia brasileira.

As riquezas minerais, como, por exemplo, o minério de ferro em grande quantidade, era estrategicamente ambicionado pelos dois lados, pois essas matérias-primas seriam utilizadas para a fabricação de arsenais de guerra, tecnologia que nesse período estava em pleno desenvolvimento.

Apesar das pressões norte-americanas, o governo continuava indeciso. E essa indecisão era reflexo das tendências contraditórias dos homens do governo: enquanto Filinto Müller, chefe da polícia do Rio, e Francisco Campos, secretário da educação do Distrito Federal, eram favoráveis às potências fascistas do eixo Berlim-Roma-Tóquio, Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores colocava-se contra. Entre as duas tendências oscilavam os generais Góis Monteiro e Dutra.

Mas muito preocupava aos Estados Unidos as ligações comerciais que o Brasil mantinha com a Alemanha e, principalmente, a postura tomada por Vargas diante da ideologia dos países do Eixo. Em 1940, Vargas citou em um discurso as qualidades do Eixo, o que fez que todos acreditassem na possibilidade do Brasil em breve se unir a eles, até porque, o Estado Novo era um governo que se identificava com os regimes totalitários europeus. Mas apesar do fato do presidente ser um simpatizante do regime alemão, “economicamente, nas circunstâncias, o Brasil não podia viver sem os Estados Unidos. A Alemanha não era bastante grande para substituí-la em nossos negócios”[1].

Segundo Roberto Gambini[2]: “Deve ficar bem claro que essa possibilidade de um duplo sistema comercial foi usada mas não criada pelo Brasil. À medida que se concretizava o prospecto de aliança entre Brasil e Alemanha, os Estados Unidos concentravam seus esforços para subverter o comércio entre os dois países, visando impedir que a Alemanha prosseguisse em sua marcha armamentista”. (p. 165)

Sendo assim, o governo determinou através do DIP[3], que qualquer meio de comunicação permanecesse neutro ao relatar notícias da guerra que acontecia na Europa, uma vez que a censura era rigorosamente exercida em todas as ocasiões.

A inclinação a favor das potências aliadas deu-se a partir do sucesso das negociações de empréstimos entre o Brasil e o Eximbank, em 1941. Já na II Conferência de Consulta dos Chanceleres no Rio de Janeiro, em meados de janeiro de 1942, a aliança política entre Brasil e Estados Unidos foi efetivada.

Tornou-se inevitável o rompimento das relações diplomáticas com o Eixo. Em março do mesmo ano, o comprometimento do Brasil se aprofundou, com a assinatura de um acordo que permitia aos Estados Unidos a utilização das costas nordestinas como bases aeronavais.

A participação direta do Brasil no conflito mundial aconteceu após repetidos ataques aos navios brasileiros por parte da força submarina alemã. Cerca de dezoito navios foram perdidos nesses ataques, realizados até em águas brasileiras. Além das perdas materiais, em torno de 607 brasileiros foram mortos.

Evidentemente, isso provocou reações espontâneas que resultaram em manifestações populares exigindo a entrada do Brasil na guerra. Em 21 de agosto de 1942, finalmente, Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores, declarou oficialmente guerra contra a Itália e a Alemanha.

Porém, ao apoiar os norte-americanos, o Brasil acaba se colocando em uma situação contraditória, pois sempre incentivara a colonização alemã. Ao tomar essa decisão acaba adotando medidas de repressão se voltando contra aqueles que tinham origens germânicas e que aqui residiam. Como analisado anteriormente nesse capítulo, os mesmos passam a ser perseguidos, agredidos pela sociedade brasileira, a qual estava mobilizada pelo episódio dos incidentes marítimos.

O país acaba participando do episódio da Segunda Guerra Mundial, não porque estava na eminência de ser atacado ou ocupado, mas sim, porque as articulações políticas e econômicas acabaram conduzindo ao desfecho desse processo.

A participação inicial do Brasil ficou limitada ao fornecimento de matérias-primas estratégicas e ao auxílio no policiamento do Atlântico Sul. Somente em 1944 foi enviado à Itália um contingente de soldados, que compuseram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que foi criada um ano antes, sob o comando do general Mascarenhas de Morais, a qual passará a ser analisada no próximo capítulo.

Os autores Dennison de Oliveira, René Gertz, Frank D. Mccann e Giralda Seyferth, trazem em suas reflexões as formas como vão se desencadear os relacionamentos entre os imigrantes germânicos e o Brasil, possibilitando-nos uma compreensão da dificuldade da tomada de decisão do governo brasileiro, qual seja, de apoiar os países aliados e não os países do eixo.

A sociedade brasileira tinha em todos os seus segmentos, sejam eles políticos, instituições de segurança, comércio, indústria, produção rural, uma ligação muito forte com os imigrantes alemães, dificultando ainda mais a tomada de decisão. Essa atitude, depois de tomada, acabaria afetando até mesmo a forma como seria tratado o povo germânico aqui residente, o que acabou acontecendo de fato.

Da mesma forma, como foi constatado, a mudança de tratamento com os imigrantes alemães desencadeou o processo que culminou no apoio aos países aliados. E é possível ter uma compreensão mais sensível deste episódio através dos depoimentos aqui mencionados de Italo Conti, Aristides Saldanha Verges, Virginia Leite e Lindolfo Guilherme Arendt.

Sendo eles integrantes de comunidades de imigrantes ou ainda descendentes dos mesmos, vivenciaram o processo e guardam em suas lembranças fatos que de uma forma ou de outra modificaram suas vidas. Ficou claro que houve mudanças drásticas de comportamento em relação aos imigrantes alemães, italianos e japoneses, direcionando a perseguições e agressões.

Ainda, conforme abordagem dos autores Roberto Ganbini, Leôncio Basbaum, Renato Eickhoff, Roney Cytrynowicz, Ricardo Seitenfus e Paulo Brandi, fica visível como foi articulado dentro do Estado Novo uma situação que pudesse beneficiar a economia brasileira até os últimos momentos, onde uma decisão havia de ser tomada.

Dentro do exposto nos textos subseqüentes, é possibilitada uma analise, através das abordagens dos autores citados e dos entrevistados, como acaba se desencadeando o processo que leva o país aos campos de batalha. Desde suas dificuldades devida a ligação com os imigrantes germânicos, ideologia política alinhada com os regimes ditatoriais e ainda interesses econômicos. Dentro de todo esse contexto vem surgir o efetivo que representaria, não só uma nação, Brasil, mas também seria o único efetivo sul-americano a singrar os mares e participar de uma forma efetiva do contexto da Segunda Guerra Mundial.

 

Referencia Bibliográfica

 

*GERTZ, René. O perigo alemão. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1991

*OLIVEIRA, Dennison de. Os soldados alemães de Vargas. Curitiba: Juruá, 2008

*SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no vale do Itajaí – Mirim. Porto Alegre: Movimento, 1985

*BRANDI, Paulo. Vargas: da vida para a história. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

*EICKHOFF, Renato. A Força Expedicionária Brasileira e os seus Veteranos. 2005. 42 f. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura Plena) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2005.

*CYTRYNOWICZ, Roney. Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Edusp, 2000.

*GAMBINI, Roberto. O duplo jogo de Getúlio Vargas. São Paulo: Ed. Símbolo, 1977

*BASBAUM, Leôncio. História sincera da República: de 1930 a 1960. São Paulo: Alfa-Omega, 1976


[1] BASBAUM, Leôncio. História sincera da República: de 1930 a 1960. São Paulo: Alfa-Omega, 1976. p122

[2] GAMBINI, Roberto. O duplo jogo de Getúlio Vargas. São Paulo: Ed. Símbolo, 1977. p.165

[3] O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) criado em dezembro de 1939 foi o principal responsável pela legitimação de Vargas e do Estado Novo perante a opinião pública. Com maior amplitude de ação que o Departamento Nacional de Propaganda, o DIP, dirigido por Lourival Fontes, tornou-se porta-voz autorizado do regime e o órgão coercitivo máximo da liberdade de pensamento e expressão até 1945.

 

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