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Você conhece a Batalha da Floresta de Hurtgen? Final
O tenente George Wilson participou da batalha e nos dá uma descrição dos métodos de guerra alemães. Toda a vez que estes, sob pressão, recuavam, solicitavam tiro de apoio da sua artilharia contra as posições que tinham acabado de abandonar, ao mesmo tempo em que ocupavam casamatas previamente preparadas, situadas a umas poucas centenas de metros na retaguarda.
– Geralmente, a nova linha de combate lhes proporcionava o controle de tudo o que estivesse à frente, localizada, talvez, numa vertente ou à beira de uma ravina. Suas casamatas eram feitas com grossos troncos de árvores e alguns metros de terra por cima. Eram quase imunes aos tiros de artilharia. É bem possível que tivessem concreto também. Não havia a mínima chance de nossos tanques se aproximarem delas para tiro direto, portanto, a infantaria tinha que tomá-las da forma mais difícil, lutando e avançando para conquistá-las uma por uma, através do arame farpado.
Entre o dia 7 de novembro e o dia 3 de dezembro, a 4ª Divisão perdeu mais de 7.000 homens, ou cerca de 10% de cada companhia por dia. Os substitutos fluíam continuamente para compensar as perdas, mas o apetite voraz da Floresta de Hurtgen por baixas era maior do que a capacidade do exército de fornecer novos soldados. Os registros do Tenente Wilson dão conta de sua companhia teve perdas da ordem de 167% dos recrutas: “Tínhamos começado com uma companhia completa, com 162 homens, e perdemos uns 287.”
O I Exército engajou, então, a 8ª Divisão de Infantaria no ataque. Em 27 de novembro, ela cercou a cidade de Hurtgen, o objetivo original da ofensiva nos meados de setembro, época em que fora iniciada. Coube ao tenente Paul Boesch, Companhia G, 121º Regimento de Infantaria, conquistar a cidade. No amanhecer de 28 de novembro, Boesch fez que se posicionassem alguns de seus tenentes no lado esquerdo da estrada que conduzia a cidade, enquanto levava outro pelotão para o outro lado. Boesch falou com cada um dos seus homens, explicando-lhes o que a companhia estava prestes a fazer. Quando deu o sinal, eles avançaram.
– Foi simplesmente infernal – avalia. Uma vez livres daquela floresta, os homens ficaram loucos para lutar.
Tanques americanos apoiaram a companhia de Boesch. Ele conta que, primeiramente, eles crivavam de balas os edifícios com suas metralhadoras .50. Depois, usavam seus canhões de 75 mm para abrir buracos nas paredes, de modo que a infantaria pudesse penetrar.
A 8ª Divisão de Infantaria não conseguiu ir além de Hurtgen. Por volta do dia 3 de dezembro, estava exaurida. Um oficial do estado-maior do regimento ficou chocado quando visitou a linha de combate nesse dia. Ele disse em seu relatório: “Os homens desse batalhão estão fisicamente esgotados. O espírito de luta e a vontade de combater ainda estão lá; a capacidade de continuar lutando não existe mais. Esses homens têm combatido sem dormir nem descansar durante quatro dias e, na noite passada, tiveram que ficar expostos ao tempo, num campo aberto. Tremem de frio, e suas mãos estão tão dormentes que eles têm que ajudar uns aos outros com a manipulação de seus equipamentos Creio firmemente que todos os homens de lá deveriam ser evacuados por meio de recursos das equipes médicas.” Muitos tinham pé-de-trincheira e todos sofriam de grave resfriado, ou coisa pior, além de diarreia.
Fonte deste artigo: Soldados Cidadãos – Stephen Ambrose – Bertrand Brasil
Você conhece a Batalha da Floresta de Hurtgen? O Início do Massacre
As operações iniciais em Hurtgen ficaram a cargo da 9ª Divisão de Infantaria comandada pelo Major-General Louis A. Craig. Uma Unidade Veterana da África, Itália, Normandia e Bélgica. Os objetivos iniciais da 9ª iniciar uma ofensiva as cidades circunvizinhas da região, a começar por Zweifall, já na margem da floresta. A resistência alemã estaria centralizada na cidade Aechen.
Nas primeiras operações de setembro, já com a tentativa de tomar a floresta, a 9ª e a 3ª Divisão Blindada, chegaram a perder 80% de seus efetivos na investida.
Com o fracasso de setembro, o 7º Corpo planejou outra ofensiva. A 9ª DI iria avançar sobre a floresta e atingir rio Roer com a captura das cidades de Vossenack e Schmidt. Houve nesse operação um certo sucesso, mesmo sendo prejudicada pelo mau tempo. O final do mês de outubro a 9ª recebeu ordens para deixar a linha. Nas ofensivas planejadas e executada pela 9ª Divisão de Infantaria teve 4 mil mortos para conquistar míseros 3 quilômetros de terreno.
O 5ª Corpo foi chamada para substituir o 7ª para conquistar os objetivos aliados, e a 28ª Divisão de Infantaria seria a ponta de lança desse nova ofensiva. A missão era árdua pra a 28ª que estava sob o comando do Norman D. Cota, o oficial que se destacou em Omaha no Dia D. Sabendo das dificuldades que a Divisão de Cota iria enfrentar, o comando aliado forneceu um Batalhão de Tanques, duas unidades de anti-tanques, uma unidade de morteiros, um Batalhão de Engenharia, uma Batalhão de Artilharia Anti-Aérea, um Bateria de Artilharia de 155mm, uma Batalhão de Infantaria e mais 8 Batalhões de Artilharia de Campanha e mais cinco Grupos de Caça-Bombardeios, além de 47 veículos anfíbios M29 Weasel. Todos reforçando a 28ª Divisão de Infantaria.
Mas, do outro lado, estavam três divisões alemãs – 89ª, 272ª, 275ª que iriam defender a região de Hurtgen. O comando das operações alemãs tinham total visibilidade das manobras dos aliados, pois estavam sob as áreas elevadas de Brandenbug e Bergstein.
Como segue abaixo na descrição de Reinaldo Theodoro
“A 28ª Divisão foi a única unidade aliada a atacar numa frente de mais de 270 quilômetros, da Holanda a Metz, permitindo assim aos alemães concentrarem suas parcas reservas num único ponto. A 28ª partiu para o ataque às 9:00 h de 02/11/44, após uma forte preparação de artilharia (o mau tempo prejudicou o apoio aéreo). Cada um de seus três regimentos tinha um objetivo distinto e com direções divergentes.
À esquerda da divisão, o 109º RI (Tenente-Coronel Daniel B. Strickler) iria avançar na direção nordeste, ao longo da estrada Germeter-Hurtgen e conquistar a linha de florestas que dominava Hurtgen. No primeiro dia, o batalhão a oeste da estrada conseguiu atingir a linha de florestas, mas o batalhão na estrada foi detido, após percorrer somente 300 metros. As tentativas de flanqueio realizadas no dia seguinte falharam devido principalmente a dois contra-ataques alemães, que causaram confusão no lado americano. Pelos próximos poucos dias, a situação continuou incerta. Enquanto os americanos haviam forçado um estreito saliente de cerca de 1,5 quilômetro no platô arborizado entre o Weisser Weh e a estrada, os alemães conservavam o outro lado dela. Mesmo o engajamento do batalhão reserva no dia 04/11/44 não provocou nenhuma alteração na situação.”
À direita, o 110º RI (Coronel Theodore A. Seely) atacaria para o sul, atravessaria a encruzilhada de Raffelsbrand e abriria uma rota alternativa para o Corredor de Monschau. Mas essa parte da floresta era repleta de casamatas e bunkers de troncos e infestada de minas, arame farpado e armadilhas. Os batalhões do 110º RI, após 12 dias de trabalhosas e custosas tentativas de infiltração, não conseguiram quebrar o impasse em Raffelsbrand. O ataque ali acabou cancelado a 13/11/44.
O 112º RI (Tenente-Coronel Carl L. Peterson), atacando no centro, havia recebido a missão principal. Ele iria atacar para leste a partir de Germeter e capturar Vossenack, para então avançar pelo vale do rio Kall e atingir primeiro Kommerscheidt e, finalmente, Schmidt, objetivo final da divisão. O começo foi bastante promissor: com o apoio de tanques, um batalhão havia conseguido tomar Vossenack no início da tarde e atingiu o fim da cota onde a cidade se situava.
Mas o batalhão que estava avançando pelo terreno até Schmidt imediatamente caiu sob fogo pesado e foi detido pelo resto do dia. De Vossenack para o sudeste, havia uma trilha estreita de cerca de três quilômetros de extensão, descendo abruptamente até o rio Kall para então subir tortuosamente até a cidade de Kommerscheidt e ao longo de um esporão até Schmidt. As fotos tiradas pelo reconhecimento aéreo não revelaram a situação em toda a sua extensão. Essa trilha, que ficaria conhecida como a “Trilha de Kall”, foi escolhida não somente como eixo de ataque, mas também como principal rota de suprimentos da divisão.
De fato, a trilha era uma pista de lama, bloqueada com incontáveis árvores derrubadas. Além disso, era estreita demais, em alguns pontos com largura de apenas 2,70 metros, limitada abruptamente de um lado por um íngreme muro de pedras e de outro por uma profunda depressão. No fundo do vale, uma ponte de arco de pedras atravessava o gelado e lento rio Kall.
Bem cedo em 03/11/44, dois batalhões do 112º RI, desceram pela trilha de Kall. Marchando de Vossenack e subindo pela outra vertente, eles conseguiram (para surpresa geral) atingir Kommerscheidt e então Schmidt. Pelo anoitecer, um batalhão estava posicionado em cada uma das vilas e organizado defensivamente. Porém, eles não tinham armas anti-tanques além das suas bazucas e minas e a necessidade de levar blindados através do vale do Kall tornou-se então assunto urgente.
No final do dia, na mais absoluta escuridão, uma companhia do 707º Batalhão de Tanques iniciou a tentativa de reforçar a infantaria, mas logo descobriria que a trilha era impassável para equipamento pesado. O terreno fofo começou a ceder com o peso do primeiro tanque, enquanto as rochas que ladeavam a trilha impediam qualquer tipo de manobra. O 20º Batalhão de Engenharia de Combate então recebeu ordens de trabalhar durante a noite para que os tanques pudessem tentar a travessia novamente pela manhã. Porém, a trilha pouco havia melhorado ao amanhecer, quando os Shermans fizeram uma segunda tentativa. Prejudicados pelas minas e pelo terreno difícil, apenas três tanques seguiram rumo a Kommerscheidt. Ao todo, cinco tanques ficaram imobilizados na trilha, rota vital de suprimentos, que ficou assim absolutamente interditada até mesmo para os versáteis Weasels.
continua…