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Archive for the ‘Montese’ Category

Contradições Históricas da FEB: Os Três Heróis Brasileiros, quem são?

Já em vários momentos buscamos lançar luz sobre a obscuridade histórica, que é crônica em nosso país. Parece-nos que há um plano orquestrado de esquecimento, quando se trata do estudo do envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Longe de ser objeto de estudo dos nossos cientistas da ciência História, a campanha da FEB é referenciada unicamente dentro dos círculos das associações ou dos grupos de interesse.

Um problema também muito sério ocasionado pela falta de pesquisa abrangente, é o risco que corremos em transformar um mito em fato histórico consagrado. Não podemos admitir que qualquer fato envolvendo a FEB seja diminuído, aumentado ou alterado para satisfazer o apetite verossímil daqueles que adoram desvirtuar os acontecimentos para atender uma demanda cinematográfica ou apenas para vender livros, desapegado da realidade histórica. É a velha mania hollywoodiana e seus personagens quase semideuses da guerra.

A História da FEB e do Brasil deve considerar novas interpretações, baseada em pesquisas sérias, para que o fato histórico possa evoluir; mudando segundo a exposição de novas evidências. Isso é importante para corrigir injustiças, trazer à luz personagens históricos injustiçados ou esquecidos. A História ela é elemento vivo em constante evolução.

Com o objetivo de contribuir para o aprimoramento do Fato Histórico, observamos algumas contradições em determinados acontecimentos que envolveram a atuação da FEB e seus integrantes. Um dos mais conhecidos:

 

OS TRÊS HERÓIS:

                Em 14 de abril de 1944, durante uma patrulha nas proximidades do Montese, três soldados Geraldo Baêta da Cruz, então com 28 anos, natural de Entre Rios de Minas; Arlindo Lúcio da Silva, de 25, de São João del-Rei; e Geraldo Rodrigues de Souza, de 26, de Rio Preto, morreram como heróis em Montese, Itália, palco de uma das mais sangrentas batalhas do conflito com a participação da FEB

Integrantes de uma patrulha, os três pracinhas mineiros se viram frente a frente com uma companhia alemã inteira. Receberam ordens para se render, mas continuaram em combate “até o último cartucho”, como se diz na caserna. Metralhados em 14 de abril de 1945, receberam, em vez da vala comum, as honras especiais do exército alemão.

              Admirado com a coragem e resistência dos mineiros, o comandante mandou enterrá-los em cova rasa e pôs uma cruz e uma placa com a inscrição: Drei brasilianische helden, que em bom português significa “três heróis brasileiros”. Acabada a guerra, eles foram trasladados para o cemitério de Pistóia, na Itália, e depois para o Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.

                O fato é registrado aqui, no próprio BLOG, e já motivou livros, séries e filmes.

Explicando algumas contradições.

                A questão que queremos abordar, que fique bem claro, não se trata de desmerecer ou duvidar dos méritos dos nossos soldados, pelo contrário, buscamos entender os fatos e tornar justo os personagens que estiveram envolvidos.

Vamos para alguns problemas:

                O Coronel Adhemar Rivermar de Almeida, então Chefe da 3º Seção, do 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria registrou o que segue em seu livro: Montese – marco glorioso de uma trajetória:

              O inimigo desencadeou uma terrível barragem de fogos de Infantaria e Artilharia entre as encostas Sul de Montese, e suas orlas Leste e a base de partida (Montaurígola), conseguindo deter a ação do Pelotão Ary Rauen, que seu heroico comandante ferido mortalmente na cabeça, quando tentava neutralizar uma incômoda “lurdinha” que barrava o avanço de seu pelotão causando grande baixas em seu efetivo, cujos remanescentes ficaram detidos, sem se moverem, em meio a terrível campo minado

               Tomando conhecimento das pesadas baixas ocorridas naquele Pelotão, o Dr. Yvon, acompanhado do Tenente Ary, de padioleiros e do 1º Sargento Alfeu, sargenteante de minha Companhia e que se apresentara como voluntário, iniciaram a sua longa e perigosa caminhada, cortada de campos minados e varrida incessantemente pelo fogo alemão, em busca de elementos daqueles elementos, até alcançar estreita e rala ravina, entre Motaurígola e faldas de Montese, quando foram também detidos por fortes rajadas de “lurdinhas”, morteiros e artilharia.

               Logo explodiu uma granada sobre o padioleiro Geraldo Baeta da Cruz, de nossa seção de saúde, que morreu no mesmo instante. (ADHEMAR, 1985, pag. 146).

                Nos registros de embarque da FEB, consta o soldado Geraldo Baeta como padioleiro, integrante do Seção de Saúde do 11º Regimento de Infantaria, o que reforça a tese de que ele estaria, conforme relato do Coronel Adhemar, indo em direção ao socorro do pelotão do Tenente Rauen. Outra evidência, é que o militar foi agraciado com a Medalha de Cruz de Combate de 2ª Classe, mérito de bravura em combate (coletivo), diferentemente do Arlindo Lúcio da Silva, recebendo o Cruz de Combate de 1ª Classe, mérito de bravura em combate (individual). Se eles participaram da mesma ação, quais os motivos da diferença nas honrarias?

                Sobre o Geraldo Rodrigues de Souza, o interessante é que o local da morte do soldado é identificado como Natalina e não Montese, como os demais.

Classe 1919. 11º Regimento de Infantaria. Embarcou para além-mar 20 de setembro de 1944. Natural do Estado de Minas Gerais, filho de Josino Rodrigues de Souza e Maria Joana de Jesus, residente à rua Cajurú nº 4, Serra Azul, SP. Faleceu em ação no dia 14 de abril de 1945, em Natalina [crivo nosso], Itália, e foi sepultado no Cemitério Militar brasileiro de Pistóia, na quadra B, fileira 9, sepultura nº 98, marca: lenho provisório.

Sobre o Arlindo, temos o relato do Decreto que lhe concedeu a medalha:

“Foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil de Combate de 1ª Classe. No decreto que lhe concedeu esta última condecoração, lê-se: No dia 14 de abril, no ataque a Montese, seu Pelotão foi detido por violenta harragem de morteiros inimigos, enquanto uma Metralhadora alemã, hostilizava violentamente o seu flanco esquerdo, obrigando os atacantes a se manterem se manterem colados ao solo. O Soldado Arlindo, atirador de F.A, num gesto de grande bravura e desprendimento, levanta-se, localiza a resistência inimiga e sobre ela despeja seis carregadores de sua arma, obrigando-a a calar-se nessa ocasião, é morto por um franco-atirador inimigo”. (Decreto de Concessão da Medalha)

                Os detalhes da descrição da ação não se referem a três soldados lutando bravamente por suas vidas em combate contra uma Companhia, se referem a um ataque sobre um ponto fortificado e, com testemunhas dos fatos, que relataram posteriormente.

                Por mais surpreendente que seja, outro acontecimento idêntico como o relato dos três soldados brasileiros mortos em Montese. Em janeiro daquele mesmo ano, uma cruz fora encontrada durante o avanço brasileiro, com fantástica similaridade. Portanto, as covas de Montese não seriam as únicas a guardar os corpos de bravos brasileiros que foram honrados pelo inimigo. Assim registra Joaquim Xavier da Silveira em seu livro A FEB por um Soldado:

Ao conquistarem Castelnuovo, as tropas de depararam com um testemunho da coragem do soldado brasileiro. Desde janeiro, três soldados do Regimento Sampaio figuravam na lista dos desaparecidos em combate: Cabo José Graciliano Carneiro da Silva, Soldado Clóvis Paes de Castro e Aristides José da Silva. Em Castelnuovo havia uma tosca cruz de madeira com a dística em alemão: 3 Tapfere – Brasil – 24.01.1945 (Três bravos – Brasil – 24.01.1944). Essa singular homenagem feita pelo inimigo é uma eloquente demonstração da coragem do soldado brasileiro. (SILVEIRA, 2001, pag. 177).

Conclusão

                Não são respostas que movem o mundo, mas as perguntas.

                Ocorreu o fato dos três heróis brasileiros em Montese?

                               Pelo relato oral dos integrantes do 11º RI, não há dúvidas sobre o fato ocorrido em Montese, contudo, não podemos afirmar de forma concludente que os personagens envolvidos no fato são aqueles consagrados pela historiografia militar. Novamente, isso não tira o mérito do sacrifício dos militares do Regimento Tiradentes mortos, seja no caso da patrulha perdida; seja em outras condições de morte violenta.

                               O importante seria para a História Militar Brasileira a análise dos acontecimentos e a busca por respostas; ou confirmando o nome dos bravos soldados que morreram naquele confronto, sendo sepultados por seus inimigos, ou trazendo a justiça histórica para aqueles que efetivamente estiveram nessa ação de bravura.

                Trata-se de um único episódio Montese /Castelnuovo?

                Como anteriormente citado, não há dúvida que trata-se de acontecimentos distintos. Contudo, é necessário que possamos expor evidências que não possibilite margem para debates e interpretações histórica erradas sobre os acontecimentos, objetivando que futuras gerações tenha a possibilidade de vivenciar a clareza histórica do passado de nosso Brasil e saber quem são seus heróis.

Quem foram os três heróis brasileiros em Montese?

                               De certo que há dúvidas bibliográficas levantadas sobre quem foram os três brasileiros que morreram conforme a descrição relatada do episódio: “Os três Heróis Brasileiros”. O que na prática deverá despertar o interesse de pesquisadores e de pessoas e instituições que possam financiar essas pesquisas para trazer para luz a verdade histórica sobre o fato. Os nomes desses bravos soldados brasileiros devem ser registrados de forma justa, seja os três mineiros atualmente apontado como protagonistas, ou outros que por ventura a História revele de forma inquestionável.

Uma Luz na Escuridão Histórica: Gastão Coimbra e o Seu Maravilhoso “Homens da Pátria”

O professor e historiador Roney Cytrynowicz  escreveu um artigo que dizia o seguinte sobre o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial: 

O lugar da Segunda Guerra Mundial na história e na memória coletiva da população do São Paulo, e do Brasil [grifo nosso], tem sido, no entanto, marcado muito mais pela ausência do que por uma presença efetiva e consistente. A guerra, episódio central da História do século 20, não está presente na memória da cidade de São Paulo; ela não é celebrada coletivamente, não é lembrada. Os soldados que lutaram e os mortos não são referenciados a não ser por pequenos grupos diretamente ligados a eles. 

 Infelizmente uma verdade gritante que se agrega a característica do Brasil em ser um País sem memória. Mas, sempre haverá ações que possam ir de encontro a essa nociva cultura. Essas ações, não raras vezes, são protagonizadas por pessoas que, distantes dos financiamentos públicos e de suas estatais, têm que vivenciar sacrifícios pessoais para ter sua obra sendo exibida.

 Gestão Coimbra conseguiu formar um bastião de resistência para levar ao público uma obra cinematográfica que retrate o sacrifício de jovens, que deixaram suas famílias e sua terra, para obedecer ao chamado patriótico de uma nação em guerra.  O longa-metragem HOMENS DA PÁTRIA é muito mais do que um filme, é um projeto que traz ao público histórias marcantes e reais de pessoas humildes que estivem à serviço do Brasil e lá deixaram suas vidas ou grande parte de sua juventude; histórias reais vivenciados por brasileiros que, infelizmente, são estigmatizados pelo ideologismo governamental que vira as costas para a importância histórica dos mais de 25 mil brasileiros que lutaram na Itália e a memória de quase 500 mortos.

 Apesar dos sacrifícios para concepção do projeto, é facilmente perceptível a fidelidade histórica do filme de 90 minutos, possibilitando uma vivência com os fatos narrados, ou seja, será uma aula de história e o reconhecimento da Força Expedicionária Brasileira na formação de uma política de regaste do nosso passado recente.

 Esses são alguns motivos para que TODOS possam apreciar e convidar outras pessoas, principalmente àqueles que acham que o Brasil pulou de 1939 para 1945.

 O Todos os envolvidos nosso muito obrigado!

 

 

Fotos de Montese com Legenda

Em alusão a uma data tão significativa, o vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB/Regional Pernambuco, Rigoberto de Souza Júnior, nos enviou algumas excelentes fotos de um dia que insiste em ser esquecido por nossa nação.

 

O Cemitério Militar de Pistóia e o Último dos Brasileiros Morto na Itália

 O quanto uma nação pode contemplar tanto descaso histórico ao ponto de ignorar escandalosamente o sacrifício de gerações passadas? Quem somos afinal? Que nação o Brasil irá se tornar se continuamos a vivenciar o descaso com brasileiros que deram suas vidas para forjar esse país? Muito pior, quando observamos que o descaso governamental se baseia em argumentação ideológica destrutiva de nossa própria identidade como povo, que se orgulha em cantar “Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta,!”.

Segundo o pensamento científico o que move a humanidade são as perguntas e não as respostas, mas neste caso, as perguntas estão sem respostas década após décadas.

 

Pistóia foi a cidade que acolheu os corpos dos brasileiros que deram sua vida pelo seu país. Isso mesmo, eles deram a vida pelo seu país, pois foi o Brasil que os enviou! Para lutarem e morrerem na Itália. Todos brasileiros! Todos nascidos em diversas regiões do país que, deixando suas famílias e suas vidas, partiram para lutar a Segunda Guerra Mundial ostentando a Bandeira do Brasil e de lá só retornaram a sua terra natal, em 22 de dezembro em cotejo fúnebre para repousar eternamente no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial e para repousarem na memória dos brasileiros que nem mesmo entendem que a bela construção arquitetônica no Aterro do Flamengo guarda os restos mortais de brasileiros natos, bravos e que honram a frase: “ Nem teme, quem te adora, a própria morte.” , enquanto deixamos a desejar como nação: “ Dos filhos deste solo és mãe gentil…

 

O MONUMENTO VOTIVO MILITAR BRASILEIRO DE PISTÓIA


Depois de quase 5 anos em que o terreno do antigo Cemitério foi deixado repousar para permitir a drenagem da terra, foram começados os trabalhos para a construção do Monumento. Neste meio tempo muito grande foi a tarefa diplomática para conseguir os recursos e as autorizações necessárias para conseguir realizar o Monumento Votivo do Cemitério Militar Brasileiro. Foi o filho do então Embaixador Francisco D’Alamo Lousada, Engº Dr. Carlos Eduardo, que realizou uma grande opera de persuasão junto as personalidades e Autoridades do Governo e ao Ministro das Relações Exteriores Juracy Magalhães, vencendo inúmeras dificuldades para conseguir recursos governamentais. O Monumento foi projeto do Arquiteto Olavo Redig de Campos, discípulo do projetista de Brasília Oscar Niemayer, auxiliado pelo Engenheiro italiano Luigi Cafiero na realização que foi executada pela firma Zarri. A inauguração aconteceu em 7 de junho de 1966, na presença das mais altas Autoridades brasileiras, com destaque para S. E. Francisco D’Alamo Lousada, Embaixador junto ao Governo italiano em Roma, o Embaixador junto à Santa Sé Henrique de Souza Gomes, o General do Exército brasileiro Floriano de Lima Brayner, chefe da delegação especial das Forças Armadas brasileiras. Também as Autoridades italianas prestigiaram a cerimônia sendo presentes, entre outros o Ministro das Relações Exteriores, o subsecretário da Defesa ,o Prefeito de Pistóia, o Bispo da diocese de Pistóia, além de inúmeros representantes das Forças Armadas italianas.

Varias simbolizais caracterizam o Monumento, como muito bem explicado na entrada onde em duas colunas em base triangular são gravadas as palavras:


A TERRA

A terra de sepultura
É terra sagrada
Na Itália o campo-santo
É a terra intocável
Do antigo cemitério
E lá continua agreste
Como antes
Sagrada pelo “Sangue dos heróis”

A CRUZ

A cruz toma posse do terreno
Fixa seus limites
Consagra seu destino
São as linhas brancas
Da enorme cruz
Que marcam o lugar para sempre
Ao altar de Deus
Se ascende pelo pé da cruz
Os braços se abrem
Em verdes campos
De esperança e fé

O SACRIFÍCIO
Ao centro da cruz
Está o altar de Deus
Pelo sacrifício do altar
Os mortos se elevam
À glória de Deus
Aqui domina a vertical
As colunas elevam o pálio
Bem alto

A ÁGUA

O horizonte é o perfil da terra
Da terra que recebe os mortos
Para o descanso eterno
É a linha horizontal
Do longo espelho d’água
Serena, estática
Como as coisas acabadas
Como um cálice

A PEDRA

A pedra é símbolo da resistência
A pedra é tenaz
A pedra é dura
O muro de pedra guarda
Gravados para sempre
Os nomes gloriosos
E a memória dos vivos
Os nomes emergem
Das águas tranqüilas
As águas refletem os nomes no céu
É a gloria dos heróis

A GLÓRIA

Para ascender à gloria dos mortos
Um longo caminho
Em meio às pedras
O caminho das batalhas vencidas
O das vitorias
Alcançadas no sacrifício
O nome de Monte Castelo
E tantos outros
Gravados no chão de pedra
Reúnem a longa caminhada
De nossos irmãos

O RESPEITO

A presença dos vivos
É marcada pelo respeito
Um lugar apartado
Para a glorificação
Na contemplação
À direita do altar
No lugar de honra
A Bandeira do Brasil
E a gratidão da pátria.

Olavo Redig de Campos

ESTA TERRA SAGRADA FOI SEPULTURA DOS SOLDADOS BRASILEIROS MORTOS NO CAMPO DE HONRA PELA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. SEUS NOMES ESTÃO GRAVADOS NESTA PEDRA PARA ETERNA MEMÓRIA DOS HOMENS

A atender as visitas desde o 1947 foi o Sr. Miguel Pereira, integrante da FEB que teve a honra de ficar como guardião, recebendo inúmeras importantes visitas (passaram até dois Presidentes do Brasil) e sem poupar esforços, ao longo dos anos, recuperou boa parte dos extraviados, bem como os contatos com as Prefeituras dos locais onde os soldados brasileiros atuaram, estreitando ainda mais as relações entre os dois países. Falecido em fevereiro de 2003 deixou ao filho a tarefa de continuar a “missão” de cuidar deste singelo lugar onde Historia, Honra e Glória estão de mãos dadas, num cartão postal que fala num conjunto único das qualidades humanas do povo do Brasil.

Mário Pereira
Administrador Monumento Votivo Militar Brasileiro

Último dos Brasileiros

 Foi no fim da mesma cerimônia que um idoso da cidade de Montese – onde aconteceu uma das mais duras batalhas – declarou conhecer o local onde um brasileiro estava ainda sepulto. Depois de um ano de pesquisa, o Guardião do Monumento, Miguel Pereira, conseguiu localizar os restos exatamente no local indicado, achando provas que não deixavam dúvidas quanto à nacionalidade dos restos e sim sobre a identidade certa de quem podia ser o corpo, entre os ainda 15 desaparecidos. A decisão de deixá-lo repousar no Monumento, enquanto Desconhecido, e então representando todos os irmãos tombados no cumprimento do Dever, transformou o local – de fato – num Sacrário.

Autoridades administrativas, judiciárias e policiais da Comuna de Montese e da Província de Módena assistem à entrega da urna do "Pracinha de Montese", às autoridades brasileiras, no Cemitério de Montese. O Subtenente Miguel Teixeira, da Reserva do Exército, ex-Expedicionário, encarregado da Conservação do Monumento de Pistóia, conduzirá a urna ao seu destino definitivo. Montese 30/5/1966\

Autoridades administrativas, judiciárias e policiais da Comuna de Montese e da Província de Módena assistem à entrega da urna do “Pracinha de Montese”, às autoridades brasileiras, no Cemitério de Montese. O Subtenente Miguel Pereira, da Reserva do Exército, ex-Expedicionário, encarregado da Conservação do Monumento de Pistóia, conduzirá a urna ao seu destino definitivo. Montese 30/5/1966

   É necessário que se faça menção ao trabalho do Arquivo Histórico do Exército (AHEX). Um oásis para os pesquisadores do período. Mantém um acervo maravilhoso e também disponibiliza material ONLINE (www.ahex.ensino.eb.br).  Temos que divulgar!

Montese: Há 68 Anos Brasileiros Perdiam a Vida Por Esta Cidade!

Sabe que dia é hoje? Não é dia de Futebol! Pelo menos para História do Brasil! Tem ideia de quantos brasileiros foram mortos ou feridos há exatos 68 anos atrás? Mais de 400!! E sabe quem foram eles? Pois é!!

Montese, a mais dura das batalhas para os brasileiros!

A AGO (Ordem Geral de Operações) nº 15, de 12 de abril de 1945, do IV Corpo, determinada à 1ª DIE a seguinte missão: cobrir permanentemente o flanco esquerdo (ocidental) da 10º Divisão de Montanhas, conquistar Montese, explorando o êxito até o corte do Rio Panaro, e ficar em condições de progredir na direção Rocca-Vignola. A conquista de Montese se impunha para permitir o franco avançado da 10º Divisão de Montanha para o norte. A ação teve início às 10h15 de 15 de abril, pelo lançamento de fortes patrulhas sobre objetivos delimitados. Às 13h30 desencadeia-se o ataque propriamente dito. E às 15h o 1º/11 RI (Batalhão Major Lisboa) entrava em Montese apoiado pela 2ª Companhia do 9º Batalhão da Engenharia de Combate. Houve grande e tenaz resistência dos alemães, que à 18h ainda se mantinham em pontos de resistência dentro da cidade. A reação inimiga foi extraordinária. A limpeza total da cidade e a conquista das elevações que a dominavam foram outras verdadeiras ações de combate, que se prolongaram pelos dias 15 e 16 de abril. Para se uma ideia do que foi o combate em Montese, basta cita que sobre aquela cidade somente no dia 15 caíram 3200 granadas de vários calibres da artilharia alemã e que sobre as posições inimigas lá existentes a nossa artilharia fez 9660 disparos. A ação sobre Montese foi exclusivamente brasileira e nela tivemos 426 baixas. A partir de 19 de abril entrava a 1ª DIE francamente na exploração do êxito rumo ao vale do Rio Panaro e por ele a planície do vale do Rio Pó em extraordinário lances diários que chegaram a alcançar 80km.

Relato do Tenente Iporan

Eram 12 horas e estávamos bastante preocupados com a possibilidade de recebermos tiros pela retaguarda vindos de Montaurigola. Saímos para o ataque. Mal o pelotão transpôs em linha a crista, partiram de Montese foguetes de sinalização com estrelas vermelhas, denunciando nosso ataque.

A tropa ultrapassou os pontos mais elevados com grande rapidez, facilitada em muito pelo terreno íngreme. Após o pelotão ter vencido um terço da elevação, sua retaguarda foi batida por densa e compacta barragem de artilharia, que cortou o fio telefônico em vários ponto e colocou fora de combate um soldado da equipe de minas e outro da Saúde. No terço inferior da elevação, aproveitando-se de uma estrada carroçável, que oferecia boa proteção, o pelotão reajustou o sei dispositivo e lançou à frente o 3º Grupo de Combate (Sargento Celso Racioppi); os outros GCs apoiaram o avanço trocando tiros dispersos com as primeiras resistências inimigas, mal definidas no terreno.

O 3º Grupo, após um pequeno deslocamento, para e assinala a existência de minas. O comandante do pelotão, ao chegar no ponto assinalado pelo sargento, constatou, com satisfação, que não se tratava de um campo minado e sim de boody-trap (armadilhas) ligadas a minas antipessoais. Neutralizamos as minas, pois conhecíamos o manuseio daqueles artefatos. Mandamos o 3º G.C. continuar a progressão, ao mesmo tempo em que determinamos o avanço do 2º G.C. (Sargento José Matias Júnior), passando a marchar com este.

O grupo mais avançado começou a galgar as elevações de Montese, favorecido pelo terreno, que assemelhava-se a grandes escadas; ao chegar ao topo, o grupo foi detido por fogos oriundos das residências colocadas na frente de uma casa de grande porte. Juntamo-nos ao grupo para estudarmos a situação e constatamos que as posições inimigas estavam a cerca de 150 metros e o espaço que nos separava era formado por uma espécie de bacia, com encostas suaves e vegetação rasteira. Determinamos então ao comandante do G.C manter a posição após o avanço do 2º G.C., que seria empregado à esquerda, enquanto o primeiro G.C. (Sargento Rubens) foi puxado para a frente. Naquela oportunidade, o pelotão tinha perdido toda a ligação com a companhia e o rádio deixou de transmitir devido à distância e ondulações do terreno, e ainda não havíamos conseguido estabelecer nenhuma ligação com o pelotão de Ary Ranen, que deveria estar atuando à direita. Preocupados com a falta de comunicação, enviamos um mensageiro ao comandante da companhia dando ciência de nossa posição e da situação.

O 2º G.C. teve seu avanço sustado por fogos vindos do flanco direito da casa e de duas outras colocadas à esquerda. Sua situação era análoga ao do outro, ou seja, no topo das escadas, separados do inimigo por curtas distâncias, tendo de permeio um terreno limpo. Competia ao comandante do pelotão empregar o último grupamento, mas achamos melhor conservá-lo, pois isso poderia levar à vitória.

Depois de estudarmos detalhadamente o terreno e o inimigo, chegamos à conclusão de que atuando pela esquerda seria melhor, porque os degraus seguiam quase juntos às casas da esquerda. Depois disso, mandamos que o sargento Rubens avançasse como o último G.C.. Para ficarmos com as nossas atenções inteiramente voltadas para a ofensiva deste grupo, determinamos que o segundo-sargento auxiliar Nestor comandasse o apoio de fogos dos detidos em proveito do atacante. Inicialmente a progressão foi feita com relativa facilidade, mas, à proporção que se aproximava as casas, diminuía o seu ímpeto; constatamos, em dado momento, que o ataque estava parado. Resolvemos então impulsioná-lo; deslocamo-nos pra a frente, passando a atuar tal qual um comandante de grupo. O sargento ponderou, achando que o tenente estava fazendo “loucuras”, mas passou a atuar com mais energia e denodo, e avançamos ouvindo o pipocar das granadas de mão dos alemães, que explodiam nas proximidades.

O grupo, com o tenente à frente, quando se aproximava do topo das escadarias do terreno, a cerva de 40 metros das casas, e se preparava para tomar o dispositivo para o ataque recebeu denso bombardeio da nossa Artilharia, que envolveu juntamente com o inimigo. Num relance verificamos que não havia nenhuma baixa e bradamos “Avante às casas!!”.

O grupo atingiu as posições inimigas enquanto não havia se dissipado a fumaça da artilharia. Os alemães permaneceram no fundo de seus abrigos quando as nossas ultrapassavam as suas posições camufladas. Tentaram então reagir, mas foram postos fora de combate. O comandante de pelotão procurou imediatamente reconhecer o terreno em frente e, quando o fazia, foi metralhado de um das janelas laterais da casa grande. Não foi atingido, mas teve a calça chamuscada. Procurou então refúgio no interior da casa. Logo conseguimos restabelecer as ligações pelo rádio com o comandante da companhia, que foi informado que havíamos introduzido uma cunha na defesa adversária, porém, precisávamos de ajuda para manter a posição e que suspendessem o bombardeio que começara momentos antes.

Um úlitmo mensageiro foi enviado pelo Tenente Iporan informava o seu comandante de companhia que havia atingido o seu primeiro objetivo Montese.

Fonte:

Diário de Paisano na Segunda Guerra Mundial – Rudemar Marconi Ramos

Montese, Marco Glorioso de uma Trajetória  – Coronel Adhemar Rivermar de Almeida

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