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Santa Cruz Futebol Clube nasce alvinegro


Em 1914, o futebol no Recife não era mais privilégio do Sport, Náutico e ingleses. Ele havia se alastrado começando a se popularizar e raro era o dia em que nos jornais não saíam notinhas comunicando a fundação de mais clube. Era o paulistano,  Internacional, Centro Sportivo de Peres, Coligação Sportiva Recifense, Agros, Canxagá, Flamengo, Olinda, Botafogo, João de Barros (depois mudou para América), Velox, Americano e tantos outros. Chegou-se até a se fundar uma Liga, a recifense que teve poucos dias de vida. Jogava-se na campina do Derby (atualmente o campo da Polícia Militar no Quartel General), no jardim 13 de maio (atual Parque 13 de maio), no British Club, no Colégio São Vicente de Paula, em Olinda, e Areias. Jogava-se onde tivesse terreno baldio e até nas ruas se jogava.

Os jornais mais lidos da época, como o Pequeno, Diário de Pernambuco, a Província, e Recife, que antes davam mais ênfase às regatas e turfe, mudaram totalmente sua linha em relação ao futebol, cujo as notícias eram consumidas ferozmente pelo povo.

Eles não saiam mais espremidas numa coluna, como antes, mas em duas, três e até quatro! À falta de fotografias, encimavam o noticiário com gravuras, mostrando os jogadores disputando a posse de bola à frente de uma barra.

E foi no meio dessa empolgação pelo novo esporte que  nasceu a 3 de fevereiro de 1914 o Santa Cruz Futebol Clube, idealizado por um grupo de garotos que, à noite, costumava a reunir-se na calçada da igreja Santa Cruz, do que resultou o nome da agremiação. A reunião foi na rua da mangueira (hoje Leão Coroado), casa número 2, bairro da Boa Vista.

No ano seguinte, quando o Santa Cruz filiou-se à Liga Sportiva Pernambucana, teve que alterar suas cores preta e branca de origem, isto porque o Flamengo (de Pernambuco), que também era alvinegro, não quis abrir mão daquilo que considerava um direito alienável. O  Santa Cruz firmou-se também na mesma posição. Luiz Barbalho, fundador do clube disse que o impasse foi resolvido por meio de um sorteio. O que perdesse, mudava de cores. O Santa Cruz perdeu e transformou-se em tricolor até hoje.

Foi ainda de Luiz Uchôa Barbalho, segundo ele, a idéia de acrescentar o vermelho, pois queria que a bandeira do clube ficasse com as cores semelhantes às da Alemanha por quem torcia na Primeira Guerra Mundial, e que por isso mesmo ficou sendo chamado de germanófilo.

Ilo Just, primeiro goleiro do Santa Cruz, tem outra versão sobre a alteração das cores. Está dito por ele no Fascículo 2, Conheça o Santa Cruz, 55 anos de glórias:

Quando houve a criação da Liga, surgiu o problema do Flamengo, que tinha as mesmas cores nossa: preto e branco. Os dois não podiam ficar e o Flamengo permaneceu alvinegro. Ainda estávamos em dúvida com respeito às cores, quando passou por aqui o Flamengo, do Rio de Janeiro, que ia excursionar a Belém do Pará. Sua camisa era vermelho, preto e branco. Resolvemos nosso problema, acrescentamos o vermelho às nossas cores.

De fato, a passagem do clube carioca pelo Recife, naquela época, aconteceu. Viaja no paquete Rio de Janeiro, com destino ao Pará, aonde vai a convite da Liga paranaense jogar diversos matchs de foot-ball, por ocasião das festas do Tricentenário de Belém, o poderoso team do Flamengo do Ri, registrava o Diário de Pernambuco do dia 19.02.1915.

Tem razão ainda Ilo Just, quando afirma que as cores do time da Gávea, ao transitar por Recife, naquele ano, eram vermelho, preto e branco. Há inúmeras publicações sobre o futebol carioca que atestam esse fato, a mais recente delas, Campeonato Carioca – 96 anos de história, de Roberto Assaf e Clóvis Martins, está dito no histórico sobre o campeonato de 1916:

Na briga pelo tri, o Flamengo foi de fato uma das vedetes da temporada. Mas, temendo que a imagem do clube fosse definitivamente por água abaixo, sua diretoria, mudou, em fim, o uniforme. A camisa “cobra-coral”, semelhante à bandeira da Alemanha, principal protagonista da Primeira Guerra Mundial, foi substituída pela de listras vermelhas e preta.

Sobre a inclusão do vermelho às suas cores preto e branco, o Santa Cruz deu conhecimento à Liga no dia 16 de março de 1916, conforme consta no livro de atas da entidade. E dessa data em diante, o tricolor ficou sendo chamado também – a exemplo do que aconteceu com o Flamengo carioca em 1914/1915 – de cobra-coral.

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Um fato singular e inesquecível marcou o primeiro ano de vida do Santa Cruz. Todo mundo queria participar da primeira partida do clube, que tinha acertado um jogo com o Rio Negro, uma agremiação também nova e composta por sua maioria de garotos. Havia uma grande expectativa não somente por parte dos seus defensores, mas também por parte dos seus primeiros torcedores. O local do encontro foi o campo do Derby, o mesmo onde havia se realizado o primeiro jogo de futebol do Recife o Rio Negro e esforçou muito, porém não conseguiu se livrar de humilhante goleada de 7X0, imposta pelos meninos da Boa Vista (como eram conhecidos os jogadores do Santa Cruz), a grande figura do encontro foi o jogador Carlos Machado, que arrasou com a defesa adversária, fazendo 5 gols dos 7 assinalados. No final do jogo a euforia tomou conta de todos pelo grande triunfo.

A fragorosa derrota tornou-se, porém, um pesadelo para a turma do Rio Negro, que resolveu pedir revanche impondo as seguintes condições: o jogo seria no seu próprio campo, na Rua do Sebo, hoje Barão de São Borja, e o Santa Cruz não escalaria Carlos Machado, como era natural o pessoal do Santa Cruz estranhou a segunda condição, mas mesmo assim aceitou o desafio. Sem Carlos Machado, a reabilitação era quase certa, raciocinavam os jogadores do Rio Negro. O Santa Cruz respeitou fielmente o acordo feito e chegou a campo na hora certa. Discretamente, os diretores do Rio Negro conferiram se Carlos Machado, o homem que havia feito tantos gols na outra partida, estava entre os onze da Boa Vista. Não. Não estava.

Acabando o jogo, nova vitória do Santa Cruz e por uma placar muito mais elástico: 9X0. Carlindo Cruz, que havia substituído Carlos Machado, ganhou o Jose quase sozinho. Fez 6 dos 9 gols assinalados.

História do Futebol Pernambucano, Givanildo Alves – Ed. Bagaço – 1998 – 2ª edição

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