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Segunda Guerra Mundial: Perguntas Complicadas & Suas Respostas – Parte III


Vamos fazer diferente aqui. Não vou postar uma pergunta, mas uma afirmativa que achei pertinente comentar, já que estava em uma rede social:

“Para todos os estudiosos da 2ª GM sempre é bom lembrar que a segunda guerra começou em 28 de junho de 1919, quando Hermann Müller assinou e em 10 de janeiro de 1920 quando foi ratificado o famigerado Tratado de Versalhes. As condições vexatórias do tratado para a Alemanha e a perda de território iniciaram a 2ª GM. Mesmo não sendo Hitler no poder, bastaria um governo forte e que desejasse a soberania alemã e a guerra estaria decretada.”

Chico Miranda:

Existem duas perspectivas que devem ser analisadas para a afirmação acima. A primeira é a indicação do Tratado de Versalhes ter sido vexatório. Quem poderia negar? Quando penso no Tratado de 1919, gosto da opinião exposta por John Maynard Keynes em seu clássico “As Consequências Econômicas da Paz”. Keynes foi o principal representante do Departamento do Tesouro que compôs a delegação Inglesa, e que negociou os termos do Tratado. Não concordou com os termos do relatório final e criticou duramente os objetivos dos aliados. No livro, publicado em 1919, Keynes imputou a França as principais insustentáveis imposições do Tratado, argumentou que o valor das reparações eram impagáveis, porquanto acusou seu país, a Inglaterra, de omissão, exaltando o espírito separatista que existia entre a Europa continental e as ilhas de sua majestade. Outra característica do livro são as referências pouco elogiosas que são dispensadas aos principais articulares do Tratado: Clemenceau, Wilson e Lloyd George, segue abaixo uma afirmativa dada pelo próprio Keynes:

“Essas eram as personalidades de Paris […] Clemenceau, esteticamente o mais nobre; o presidente (Wilson), moralmente o mais admirável; Lloyd George, intelectualmente o mais sutil. O tratado nasceu de suas disparidades e fraquezas, filho dos menos valiosos atributos de seus pais: sem nobreza, sem moralidade, sem intelecto”

Keynes, 1919

A outra perspectiva da afirmativa do enunciado não deve ser usada para justificar as ações de Hitler e os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial. Para tanto, em 1935, ou seja, dois anos depois da assunção do nazismo, já não havia qualquer tipo de obrigação do Tratado de Versalhes sobre a Alemanha, exceto o Corredor Polonês. Pelo contrário, o regime nazista já colocava em prática o Lebensraum (Espaço Vital). A compreensão das políticas externas e a visão de Hitler da posição que a Alemanha deveria ter em relação aos outros povos é que determinou os caminhos que o regime tomou a partir de 1939.

Faço ressalvas a afirmativa “bastaria um governo forte e que desejasse a soberania alemã e a guerra estaria decretada”, já que o governo alemão de Hitler empreendeu conquistar reparações muito além dos parâmetros iniciais impostos pelo Tratado. A guerra foi uma opção, dentre outras possíveis. Outra característica do nazismo era não cumprir os diversos acordos diplomáticos que se seguiram por toda a década de 30 e preterir os meios negociados, buscando o empreendimento bélico. Esse é o ponto! O Führer era um belicista por natureza. Desde o princípio, a sua ideologia já demonstrava claramente de que forma iria colocar a Alemanha onde o nacional socialismo entendia que ela deveria estar, e os meios eram bélicos. Prova? Em discurso no Reichstag em 1938, o próprio Führer declara que as fronteiras antes do Tratado de Versalhes de nada interessam para III Reich. O que ele queria?

 Evidente que os aliados foram os expoentes na preparação do terreno para a Segunda Guerra Mundial, contudo, o totalitarismo, somado a uma ideologia radical e convicta do regime, que se estabeleceu na Alemanha a partir de 1933, contribuíram de forma decisiva para a abrangência do conflito.

Haveria guerra, mesmo sem Hitler? É possível! Mas a dimensão, consequências e, principalmente, o resultado para a Alemanha, são méritos exclusivos do Líder alemão e seus aliados.

Perguntas Complicadas? blogchicomiranda@gmail.com

  1. ADELSON LUIZ APOLONIO DA SILVA.
    10/01/2013 às 2:20 PM

    E SEMPRE BOM RELEMBRAR FATOS QUE LEVARAM A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL,PARA QUE OS JOVENS DESTA GERAÇÃO TENHÃO CONHECIMENTO COMO UMA MENTE FUTIL PODE LEVAR UMA GERAÇÃO A DESTRUIÇÃO, E O GOSTO DA DERROTA DE UM IDEAL POR GERAÇÃO A GERAÇÃO.

  2. Marcos Guerra - Cabo Japiassú, 4o BPE.
    10/01/2013 às 2:40 PM

    Hitler levou a Alemanha à guerra que envergonha o Povo Alemão até os dias de hoje, e o meliante de 9 dedos mostrou aos Brasileiros a falta de ética e mentira deslavada, que vai
    envergonhar-nos por muitos anos. Fez apologia da falta de estudo e mostrou que para
    progredir deve-se roubar e mentir em excesso.

    • Job de Azevedo
      11/01/2013 às 7:04 AM

      Achei o comentário não pertinente ao assunto.

  3. 10/01/2013 às 5:36 PM

    Prezado, meus parabéns pela avaliação lúcida e sensata da IIGM. Num momento onde neonazistas e simpatizantes estão cada vez mais desavergonhados na relativização do nazismo, seu post merece ser lido e comentado.

    • Job de Azevedo
      11/01/2013 às 7:26 AM

      Os comentários do Chico são sempre isentos e não tendenciosos, preservando sempre o objetivo da história. O diferencial é que não tem o ódio ideológico encontrado nos artigos dos vencedores da guerra ou artigos assinados pelos perseguidos da 2GM que sempre mostra a segunda guerra em preto e branco. E o outro lado, pouco se escreve e poucos tem a coragem de falar.

  4. Heid
    11/01/2013 às 7:37 AM

    Desculpe o comentário mas em estudos históricos não existe “se”. Para os historiadores, não existe sentido em especular a respeito de “realidades alternativas” .

    Abraços

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