Uma luz na escuridão, é o que representa o SENAB. Não há outra analogia que possa representar tão bem a realização do II Seminário Nacional Sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Não podemos ignorar o fato de que a população brasileira não cultua seu passado, antes, o ignora ou o menospreza. E em Recife, o período da Segunda Guerra parece não ter qualquer significado relevante. A rica história local, passando pela heróica resistência contra a ocupação holandesa do século XVII, a Guerra dos Mascates do século XVIII, Insurreição Pernambucana e a Confederação do Equador do século XIX e todas as revoltas do início do século XX, Pernambuco teve um papel de destaque ou foi co-participante desses eventos. Contudo, o período compreendido entre os anos de 1939 a 1945 passa a não ser parte integrante de uma processo histórico de destaque para o Estado.
Os impactos da Segunda Guerra Mundial são de extremo interesse para a História local. Recife, antes do período da guerra, vivia ainda um olhar provinciano, seu urbanismo, cultura e povo ainda se projetavam na cultura francesa. Não por acaso, desfilavam pelas suas ruas homens e mulheres com pesadas roupas para o clima tropical de nossa cidade. Nas faculdades, tais como a Faculdade de Direito do Recife e a Faculdade de Medicina, se destacam as obras no idioma quase obrigatório para os intelectuais, o francês. Nas escolas públicas, não havia outro idioma estrangeiro, apenas o francês.
Quando eclode a guerra e o Brasil se envolve no conflito a partir de 1942, a cidade passa a figurar como estratégica do ponto de vista militar. Cerca de 20 mil estrangeiros passam a transitar ou a trabalhar na capital pernambucana. O porto do Recife, em conjunto com outros portos do nordeste, são o Portão Principal de defesa das Américas, “se houver uma invasão do continente americano, será por lá”, declara o US Army. A cidade passa a conviver com americanos, ingleses, canadenses e outros aliados.
Se instala a Quarta Frota Naval na avenida Guararapes, um dos mais sobres endereço à época, outro edifício é cedido para os bailes promovidos pelos americanos, além de uma clube de praia em Boa Viagem. Os recifenses presenciam a criação de hospitais, aeroportos, rádios e tantas outras ações que visavam proteger a cidade.
Economicamente a cidade convivia com os dólares trazidos pelos estrangeiros. O preço do aluguel dispara, o custo de vida sobe. É o efeito da presença americana em Pernambuco. Os primeiros prostíbulos aparecem próximo ao Porto do Recife. Não é difícil encontrar jeeps circulando pelas ruas de Recife com soldados com camisetas, calças justas e óculos escuros. Também não díficil ver uma confusão entre os militares estrangeiros e homens locais. Mas ao mesmo tempo, o recifense passa a incorporar frases americanas e a se vestir como yankees. Bye, Milk-Shake, OK são facilmente identificadas e usadas no cotidiano dos locais. A cultura americana começa a tomar forma em Pernambuco.
A Quarta Frota Naval tem por incumbência todo o trânsito no Atlântico Sul, não apenas no que diz respeito as Forças Navais, mas também os deslocamentos aéreos de patrulhamento da costa do Brasil. Submarinos são atacados e afundados, em contrapartida navios mercantes brasileiros afundam também. E o Recife presencia as vítimas chegarem as suas praias.
Essa era a Segunda Guerra para Pernambuco, importante e relevante para sua História.
Antigo Prédio da Prefeitura do Recife
Ponte da Boa Vista com bonde elétrico na década de 40. No local próximo a essa ponto, existia uma outra, construída pelo holandeses em localização exata desconhecida. Pelos mapas do período acredita-se que ela ficava próximo a atual Casa da Cultura (antiga Casa de Detenção)
Torre de Malakoff.
Rua Marquês de Olinda. Uma das principais ruas do Recife Antigo
Praça Dezessete
Av. Martins de Barros. Essa avenida era considerada a do Porto. Atualmente o início é o Cai de Santa Rita.
Vista da Ponto da Boa Vista para a Rua da Imperatriz. Observando os depósitos na margem do rio.
Rua Nova em 1853
Praça Marciel Pinheiro na década de 40 do Século XX. Em um sobrado nesta praça, morava a escritora Clarisse Lispector. Ela passou parte de sua infância no bairro da Boa Vista e estudou no Colégio Ginário Pernambucano, antes de se mudar para o Rio de Janeiro
Igreja Batista do Cordeiro uma das primeira igrejas evangélicas do subúrbio do Recife.
Feira de Caruaru no século XIX
Ponte Maurício de Nassau. Ponte construída no período holandês, era considerada o Portão do Recife.
Em 1912, passou a funcionar o curso de Ciências Jurídicas no prédio na Praça Dr. Adolfo Cirne, no Recife, depois de concluídas as obras Governo da República. O prédio construído por José de Almeida Pernambuco, ocupa uma área de 3.600 metros quadrados, no centro de uma área ajardinada e seu projeto arquitetônico, eclético, com predominância do estilo neo-clássico é de autoria do arquiteto francês Gustave Varin.
Vista a partir do Grande Hotel, considerado no início do século passado o mais luxuoso hotel da cidade, o mesmo dispunha de cassinos e jogatinas, e era frenquentado pela Elite pernambucana. Entre as personalidades se hospedou está o então presidente francês Charlles De Gaulle, o presidente americano Eisenhower.
Primeira destruição do Bairro do Recife em 1913 com o objetivo de “Modernizar” a entrada da cidade. Essa “reestruração” levou à baixo igrejas, fortes e dezenas de casas. Uma das justificativas era a “exigência do trânsito”….
Vista do Recife final do Século XIX
Vista do Bairro do Recife a partir da Torre de Malakoff, que foi o primeiro observatório Astronômico da América-Latina. Ao lado está a praça do Arsenal, que no final do século tinha o nome Praça Voluntários da Pátria, pois dali saia o contingente pernambucano que iria lutar na Guerra do Paraguai
Vista da Rua Direita, atualmente Largo da Paz. A Igreja do Largo da Paz foi utilizada durante a Intetona Comunista de 1932 como Posto de Observação contra as tropas do Governo, instalada uma metralhadora na torre da igreja
Idem
O Forte das Cinco Pontas atual
Local onde foi construída a atual Av. Dantas Barreto, ruas, casas e igreja foram destruídas
Centro da Cidade com visão da Rua 01 de Março para a Praça do Diário e Av. Guararapes. Uma das visões mais clássicas e antigas de nossa cidade.
Atualmente, Barão de Souza Leão com a final da Av.Conselheiro Aguiar.Do lado direito da foto onde caminham três pessoas, é a atual Pracinha de Boa Viagem. Foto tirada do antigo Hotel Boa viagem.
Faculdade de Medicina do Recife na década de 30.Em 1925, ainda sob a gestão de José Octávio de Freitas, a Faculdade ganhou do Governo do Estado, ocupado por Sérgio Teixeira Lins de Barros Loreto, um terreno no bairro do Derby para a construção de sua sede própria.
Teatro Santa Isabel. Com um trem se aproximando do lado direito
Avenida Guararapes na Década de 40.
Mercado Público de São José um dos mais antigos e importante centro de compra da cidade
Derby. Atualmente o Quartel General da Polícia Militar do Estado de Pernambuco. Essa, hoje é a continuação da Av. Conde da Boa Vista, nesse período não havia essa ligação.
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Minha mãe atualmente com 78 anos me conta que nessa época ainda não existia aqui em Recife botijão de gás , foram os americanos que trouxeram ,cozinhava-se a lenha, como tb galinha abatida…… nessa época as galinhas eram vendidas vivas , e o refrigerante coca-cola tb chegou por aqui pelos americanos , homens estranhos transitavam nas ruas á noite com capas estilo detetive abordando pessoas suspeitas , e mandando crianças se recolherem .
Todas essas histórias e muito mais ainda escuto minha mãe contar a respeito dessa época .
Sim ia me esquecendo, as lâmpadas das casas tinham uma especie de abajur para a claridade não se expandir muito , e os carros tb tinham uma película cobrindo parte dos faróis , para que não ficassem visíveis por aviões a noite , vários estabelecimentos comerciais de propriedade de alemães foram destruídas ou saqueadas depois da noticia de torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães.
Chico, muito bom o artigo. Concordo com tudo que diz. Os brasileiros não cultuam seus heróis. A propósito, enviei e-mail para v. falando do meu livro “O Porto Distante”, sobre jovens marinheiros na Segunda-Gerra, culminando com o torpedeamento do Cruzador “Bahia” pelo submarino alemão U-530, atribuído a “imperícia de metralhador brasileiro” e que contesto com provas. O livro está a disposição através do e-mail paivap50@gmail.com
Um abraço
Paulo
Qual é então a tua tese hein Sr. Paiva, para o afundamento do Cruzador Bahia? No caso de teu livro, qual seria esse “porto distante” e “esses jovens marinheiros” seriam no caso os da Marinha do Brasil, certo?
A discussão é bem vinda…
Saudações, Manoel
Caro Manoel
Sou Oficial de Marinha (R1) e há muito tempo leio tudo que consigo sobre o assunto. O meu livro “O Porto Distante” foi lançado o mês passado. É um romance, sim, mas o fato do torpedeamento do “Bahia” é verídico. O submarino U-530, autor do crime, se rendeu na Argentina uma semana depois do fato. Em 2005, dois jornalistas portenhos tiveram acesso a documentos até então secretos, que narram todos os fatos. O Jornal do Comércio do dia 18 de agosto deste publicou reportagem de uma página sobre o livro. Se quiser posso lhe remeter. Meu e-mail é paivap50@gmail.com
Um abraço
Paulo
Prezado Manoel
O “Bahia” foi torpedeado no dia 4 de julho de 1945, dois meses após o término da guerra, pelo submarino alemão U-530, nas proximidades dos Rochedos de São Pedro e São Paulo. Uma semana depois esse submarino se rendeu na Argentina. Na época, quase toda a Marinha do Brasil estava subordinada à IV Frota Americana, sediada no Recife. Porque os americanos encobriram esse crime, está descrito no meu livro.
” O Porto Distante” é uma metáfora, e sim, os jovens marinheiros são brasileiros.
Um abraço
Paulo
Salve nobre Paulo!
Primeiramente venho agradecer vossa senhora pela resposta, obrigado!
Bem, apenas para me apresentar um pouco, eu estou terminando o mestrado em história pela UFPE, e por sinal, minha área de estudo atualmente é sobre a “Base Fox,” nome em código para a Naval Operating Facilty 120 i.e. em termos mais simples seria a base naval americana no Recife, nas imediações do Forte do Brum, dos Armazéns # 1 a 4. Então, foi logo após o ataque do U-507 à navegação mercante brasileira, em agosto de 1942, que após uma série de reuniões entre os estados-maiores americano, brasileiro e britânico, que a Marinha do Brasil, a parte do N-NE, que ficou sob comando operacional da Força do Atlântico Sul da US Navy… é bom enfatizar a questão operacional, pois em tese a logística, disciplina, treinamento, organização de pessoal, etc. ficaria a cargo de cada uma marinha…
Eu ainda não cheguei a analisar profundamente a questão do Cruzador Bahia, tenho alguns jornais da época e neles há notícias que foi sim um ataque de submarino, mas sem saber de fato a autoria, mas ao mesmo tempo temos depoimentos dos sobreviventes que chegaram ao Recife e confirmaram que foi um incidente… Como nunca viera à minha mente o fato de ter sido um submarino, não tenho o KTB desse U-boat, nem algum documento de origem americana. Suponho que terei que investigar isso mais tarde, quando tiver oportunidade…
O Sr. chegou a publicar esse livro, ou escreveu algum artigo científico, ou apresentou ele a público? Quais “provas” ajudaram o Sr. a chegar a tal conclusão, além de mostrar que “os americanos encobriram” de certa forma o “real” acontecimento!?
Abraço, Manoel.