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Um Livro para se Ler e Refletir – Da Glória ao Esquecimento…
Um dos pontos negativos do nosso país, infelizmente, é o desleixo com o seu passado. Isso fica evidente quando se realiza uma breve pesquisa histórica e percebemos que os regimes políticos brasileiros do passado, de alguma forma, influenciaram diretamente no ensino da História no nosso país, e esse ensino, não necessariamente correspondia a um fato histórico real. Por exemplo, o quadro “O Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, pitando em 1888, foi uma representação não-histórica da Independência do Brasil, mas foi adotado como uma visão heróica e histórica da nossa separação com a nação lusa. Essa caricatura não aconteceu como retratada pelo pintor, muito embora muitos brasileiros até hoje acreditem exatamente naquela imagem.
Seguindo essa linha, a Força Expedicionária Brasileira foi alvo de um ataque velado para o esquecimento, inicialmente pelo próprio Getúlio Vargas, que se esforçou para que o retorno dos soldados brasileiros não tivesse qualquer impacto político, por isso, deveria a FEB ser desarticulada e as atividades políticas e sociais de seus membros serem controlados pelo Estado. Um exemplo é o comandante da FEB, Marechal Mascarenhas de Morais que foi escolhido por Vargas, principalmente por não ter aspirações políticas, e após seu retorno, praticamente caiu no esquecimento. Os governos seguintes deram pouca ou quase nenhum importância para os homens que lutaram nos Teatro de Operações na Itália, e as associações de ex-combatentes nasceu com o objetivo simples: lutar pelo reconhecimento histórico, e, além disso, lutar para que as próximas gerações possam saber que seus antepassados participaram de uma guerra pela liberdade do mundo, sendo que muitos não retornaram, esse é um direito que nós, nossos filhos e neto temos!
Os americanos sempre dizem que “Heróis são os soldados que não retornaram”, aqui no nosso país, há muito mais heróis, além dos que morreram em combate: heróis que retornaram e lutaram pelo seu reconhecimento histórico; gerações posteriores que também lutam para manter vivo na memória do nosso povo o sangue brasileiro derramado em solo estrangeiro.
O autor do livro “Da Glória ao Esquecimento: os socorrenses na Segunda Guerra Mundial – resgatando a memória da cidade”, o historiador Derek Destito Vertino é uma dessas pessoas que luta hoje para que as próximas gerações possam conhecer o sacrifício de jovens brasileiros que lutaram ferozmente pela liberdade italiana.
E o livro é a materialização desse grito de justiça histórica, e trás à luz uma reflexão não apenas do desleixo dos governantes para com seus bravos soldados, mas principalmente a falta de reconhecimento de todo o passado brasileiro.
Congratulo o jovem historiador pela iniciativa e percebemos que há esperança quando vemos obras de exímia qualidade como “Da Glória ao Esquecimento: os socorrenses na Segunda Guerra Mundial – resgatando a memória da cidade”.
A todos que acompanham o BLOG CHICO MIRANDA segue a recomendação para uma excelente leitura:
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Festa no lançamento e noite de autógrafos do livro de Derek
O Palácio das Águias esteve em festa, na noite de sexta-feira, 15 de Abril, com o lançamento do livro “Da Glória ao Esquecimento: os socorrenses na Segunda Guerra Mundial – resgatando a memória da cidade”, escrito pelo historiador Derek Destito Vertino.
Com a presença de dezenas de amigos, dos pais Clara e Cido, e parentes dos pracinhas socorrenses, a noite de autógrafos teve início com as palavras do autor, que fez uma rápida explicação dos motivos que o levaram a escrever o livro.
O primeiro objetivo de sua pesquisa histórica, foi o de levantar um monumento aos heróis socorrenses, a exemplo do que existe em outras cidades da região. Esbarrou com uma série de dificuldades, entre elas a falta de dados, fotos e documentos da época, as quais perderam-se com a grande enchente de 1970. Da memória dos pracinhas, seus descendentes também não tinham muito a contar. Os jornais locais devem ter falado dessa epopéia dos socorrenses, também rodaram com as águas da enchente.
“Como o monumento era uma incerteza, a curto prazo, há dois anos comecei a pesquisa sobre a participação do Brasil na II Guerra Mundial e, em especial, da participação dos socorrenses, para escrever o livro que resgata um pouquinho da História”, disse Derek que, agora, aguarda o cumprimento do compromisso da prefeita Marisa, em levantar o Monumento aos Pracinhas, conforme o acordo feito com ele e descendentes dos soldados.
No vídeo que passou, em seguida, feito por alunos da Universidade Anhembi Morumbi, com depoimento de expedicionários que participaram a guerra, ficou bem clara a vontade da ditadura Vargas em colocar esse episódio no esquecimento. Depois da tomada de pontos estratégicos na Itália, com a rendição de soldados inimigos, a FEB – Força Expedicionária Brasileira, foi destituída e seus soldados dispensados, antes mesmo de voltarem ao Brasil.
E mesmo recebidos com festas, em seus municípios, não receberam nenhuma ajuda governamental durante anos. Nossos pracinhas foram esquecidos, pois a ditadura de Getúlio Vargas, não interessava ressaltar feitos heróicos realizados em nome da democracia.
Após a apresentação do vídeo, as viúvas dos veteranos receberam botões de rosas. A filha de Thomas Marcelino Borim, Neusenice, ficou muito emocionada ao agradecer, em nome dos demais parentes, pelo trabalho desenvolvido por Derek, em seu livro:
“Meu pai sempre dizia não entender o porquê desse esquecimento por parte das autoridades, de um feito tão importante de nossa História. Ele sempre participava de eventos em outras cidades, feitos em homenagens aos pracinhas. Para nós, esse é um momento muito importante e tenho certeza que meu pai está feliz, com esse resgate da história. Muito Obrigada!”, disse ela.
Em seguida foi servido um coquetel aos convidados, enquanto Derek autografava os livros, para os amigos que formaram uma longa fila para adquirir um exemplar. O autor agradece a fotos os que compareceram ao evento e aos patrocinadores do livro.
E com a internet, o livro chegou aos Estados do Paraná, Rio de Janeiro, interior de São Paulo, Brasília, Rio Grande do Norte, Alagoas, Belém do Pará e em outros países, também na comunidade brasileira em Angola e Alemanha.
Quem não compareceu e quer conhecer um pouco dessa parte da II Guerra Mundial, da participação da FEB e dos pracinhas socorrenses, o livro está sendo vendido por R$17 no Mercado Livre: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-179747016-da-gloria-ao-esquecimento-os-socorrenses-na-segunda-guerra-_JM ou por outros contatos: derekdvertino@gmail.com / derekdvertino@hotmail.com / (19) 8126 9182 e (19) 8170 9858.
O Brasileiro é Acima de Tudo Um Forte – O Legado da FEB
Tradicionalmente o brasileiro é taxado de ter a memória curta, isso quer dizer que lhe é peculiar o pouco interesse no passado de seu país. Em vários aspectos discordamos dessa posição, contudo existem características no Brasil que nos arremata para esse tipo de pensamento, e uma delas é a FEB. Isso mesmo, a Força Expedicionária Brasileira é um assunto pouco expressado no meio acadêmico, a participação brasileira no conflito mundial de 39 a 45 é um grande território de estudo para as diversas universidades do país, muito embora o tema seja pouco valorizado, as obras e estudos que têm como área de pesquisa a mobilização, atuação, resultados e desmobilização da Força Expedicionária Brasileira são de pouquíssimos autores em comparação a outros períodos da história brasileira. Nesse cenário, a memória dos que combateram no Teatro de Operações Europeu ficou sob a responsabilidade dos filhos, netos e bisnetos dos ex-combatentes que têm lutado com a mesma garra de seus antepassados para manter viva a honra que esses combatentes conseguiram nos campos de batalha italiano. Nessa “guerra” injusta contra a ignorância histórica, o trabalho se torna mais difícil com o passar dos anos e, quando os ex-combatentes nos deixarem, as Associações estarão enfadadas ao esquecimento se não houver um mudança de atitude no trato com a memória desses homens que viram a guerra, e voltaram sob a égide da vitória para o país, mas também destinados ao abandono do governo que os enviou.
Existe um grupo de intelectuais que critica e questiona firmemente a atuação da FEB nos campos de batalha italianos, entre os quais citamos William Waack, um dos maiores jornalista que esse país possui é também autor do livro As Duas Faces da Glória, que trás uma visão jornalística das relações do Brasil com os demais Aliados, e se baseia em documentos trocados entre os ingleses e americanos juntamente com entrevistas de combatentes alemães que lutaram contra a FEB na campanha da Itália. Bem, claro que essas discussões são pertinentes e, até salutar, para o debate sobre a participação brasileira, contudo o ponto passivo entre os estudiosos e aficionados pelo assunto é a bravura dos soldados brasileiros no combate, isso deve ser o elemento central na exaltação da memória das futuras gerações. Uma divisão expedicionária que foi formada com soldados com claras deficiências físicas, com pouca ou nenhuma instrução, saídos de um exército que até anos antes tentou golpes de Estado que foram planejados e executados por membros de suas fileiras, um exército cujo último conflito de grandes proporções foi uma controversa guerra contra seu próprio povo, em uma cidade chamada Canudos, ainda no século XIX; e a FEB foi criada sob as ordens de um Estado ditatorial para lutar contra uma nação de regime semelhante, guardada as proporções. Essa divisão foi formada com soldados que, aparentemente, não foram bem vistos por seus Aliados, mas que no decorrer das missões mostrou-se ser de extrema bravura individual, lutando contra um inimigo experiente, vindos de outros fronts como a campanha russa, membros da temida Afrika Corps, um povo que estava lutando desde o final do século anterior. Nossos soldados foram viris frente a este inimigo, deixando de lado suas limitações logísticas e físicas demonstraram serem dignos da frase do grande escritor Euclides da Cunha, quando se referiu ao povo que o exército enfrentara na guerra de canudos – O nordestino é acima de tudo um forte, escreveu ele em sua obra-prima Os Sertões – no caso da FEB, não apenas o nordestino, mas o brasileiro se mostrou forte, enfrentando o seu oponente e todas as limitações, enfrentando o tempo, e o rígido inverno europeu, mesmo saído das regiões tropicais e nunca ter visto neve, lutou na neve, vencendo um inimigo árduo, o frio. Pode-se escrever livro questionando as operações da campanha, mas deveríamos escrever dez vezes mais, sobre a coragem dos febianos para deixar de legado para as próximas gerações.
Fechando o ciclo de exemplos que podemos elencar na busca pelo reconhecimento dos nossos brasileiros que lutaram em solo estrangeiro, podemos citar os 17 de Abetaia que foram cercados e mortos no ataque em 12 de dezembro de 1944 no Monte Castelo, seus corpos só foram recuperados após o ataque de 21 de fevereiro de 1945, e devido o frio extremo, todos estavam bem conservados, muitos ainda com o dedo travado no gatilho de seus fuzis, enquanto outros estavam com granadas na mão e sem o pino de segurança, morreram todos em formação semi-circular, cercados, mas face a face com o inimigo, encarando-os até a morte. Homens bravos! Brasileiros Bravos!
Escrito por Francisco Miranda - Proibido reprodução ou publicação sem autorização do autor