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Archive for 09/04/2011

Os Ingles em Recife – Na Segunda Guerra Mundial

Em setembro de 1939, o Recife se engalanava todo para sediar o III Congresso Eucarístico Nacional, que seria realizado no ainda não inaugurado Parque 13 de Maio. Naquele local, levantavam-se, apressadamente, amplas arquibancadas e todo um extenso edifício, especialmente destinados aos atos do Congresso, e que seriam, ao seu término, demolidos, ficando o Parque com sua finalidade específica, que era a de uma área de lazer para o povo.

 

Aqui chegavam peregrinos de todo o mundo. O Almanzora, um dos navios da Mala Real Inglesa, e o Neptunia, de bandeira italiana, entre muitos outros navios, chegavam cheios de brasileiros de todos os rincões, que à falta de hotéis em número suficiente para recebê-los, eram hospedados em casas de famílias ou em instituições religiosas.

 

A guerra estava à porta, e, de fato, foi durante a própria abertura do Congresso Eucarístico, no Parque Treze de Maio, que a notícia da invasão da Polônia foi, pelos alto-falantes ali colocados, comunicada aos pernambucanos. Os ingleses residentes em Recife, mais do que os brasileiros, se preocupavam com o conflito iniciado na Europa. Muitos deles, espontaneamente, se apresentavam como voluntários e partiam para sua terra natal, de modo que, aos poucos, a colônia inglesa em Recife, e no Brasil em geral, foi se reduzindo.

 

O Diário de Pernambuco de 22 de dezembro de 1940 informava que, no Rio de Janeiro, havia sido muito movimentada a partida do Oriunssen, levando 50 voluntários ingleses que, de uma maneira pitoresca, embarcaram cantando a conhecida marchinha Mamãe eu quero, com uma grande quantidade de curiosos assistindo à partida do navio.

 

Os ingleses estabelecidos em Recife e já sem idade para prestar o serviço militar, se movimentaram para, de alguma forma, colaborar no esforço de guerra, angariando fundos a serem enviados para a Inglaterra, principalmente a Cruz Vermelha Britânica. No mês de dezembro de 1940, por exemplo, teve lugar, no Country Club do Recife, um leilão de prendas e venda de objetos, o presidente do Clube, o Sr. L. M. Hallet, agradecia as palavras pronunciadas pelo Sr. Anibal Fernandes, diretor do Diário de Pernambuco, e que tinha, ele mesmo, a convite da Cruz Vermelha, aberto o leilão.

 

A Campanha do Fole, foi o esforço dos ingleses em manter aceso, com o fole, o fogo do patriotismo e, assim, poder coletar recursos para o reaparelhamento da sua Real Força Aérea, a RAF. As pessoas que aderiam àquela campanha contribuíam com uma determinada quantia por cada avião alemão derrubado e recebiam em troca, uma fitinha (de cores diferentes de acordo com a quantia doada), afixada com muito orgulho, à lapela.

 

Havia, no consulado britânico no Recife, durante os anos da guerra, uma lista negra das pessoas físicas e jurídicas, brasileiras ou de outras nacionalidades, que eram simpáticas aos alemães e com as quais os ingleses nada queriam. A esse respeito conta-se uma interessante história, acontecida aqui no Recife. Um conhecido industrial, dono de uma grande laminação, era ardoroso germanófilo, enaltecendo, em toda parte, abertamente, o regime nazista. Certa vez, um modesto empresário, que desejava alguns favores seus, fora procurá-lo, não tendo, oportunidade de expor suas pretensões uma vez que o industrial, talvez para não atendê-lo, passara o tempo todo a fala sobre a guerra, os rumos que iam se tornando favoráveis à Alemanha, as vitórias de Hitler, etc. O empresário saíra como entrara, de mãos abanando, e, também, convicto de que, para conseguir alguma coisa, teria que ler bastante sobre a guerra, e principalmente deveria se mostrar simpático aos alemães. Nesse sentido, passou a manusear jornais, livros e mapas, e, uma semana depois, voltou para conversar com o industrial, certo de que, agora, o diálogo seria frutífero. Acontece que nesse meio tempo o industrial havia sofrido uma forte pressão do Consulado Britânico, que o ameaçaram, taxativamente, de excluí-lo das transações comerciais com o mundo inglês. E, quando o nosso empresário iniciou sua conversa, conduzindo o assunto para a Guerra e procurando deixar bem clara a sua incipiente e crescente simpatia pelo nazismo, foi desarmado pelo laminador industrial, que o interrompeu de pronto e lhe disse , alto, bem alto, para que todos ouvissem: – Meu amigo, aqui é lugar de trabalho e nesta casa não se fala em Guerra

 

Fonte: Esses Ingleses… (Rostand Paraíso) Edições Bargaço


 

 

No Dia D – Hitler Dorme do Ponto

Logo que o sol nasceu no dia 06, o piloto alemão Adolf Bärwolf recebeu a ordem de decolar da base de Laval para um voo de reconhecimento. Depois de sobrevoar Cean e virar à esquerda no Rio Ornem, ele e seu auxiliar viram centenas de carcaças de planadores inimigos espalhados pelo campo. Bärwolf fotografou a cena e rumou para o mar, onde pôde avistar mais de 50 embarcações. Estava claro que havia chegado o dia da invasão.

 

Quando o piloto voltou a sua base, eram cerca de 6h, e  o desembarque dos Aliados mal começara. Com as informações, as temidas divisões blindadas que estavam posicionadas a oeste das praias da Normandia poderiam agir com rapidez. Os tanques iniciaram o deslocamento por determinação do marechal Gerd von Rundstedt, que pediu autorização para agir. No entanto, o contra-ataque só foi lançado entre as 14h30 e 15h pela 21ª Divisão Panzer da SS. Motivo da demora: somente Hitler, comandante em chefe das Forças Armadas, poderia dar  a ordem.

Eram 7h30, Von Rundstedt recebeu a informação de que o Füher dormia. Em seu refúgio em Berghof, nos Alpes bávaros, o ditador nazista havia pegado no sono apenas à 3 horas. Ninguém queria acordá-lo por causa de “relatórios não confirmados” de invasão. Segundo depoimentos, auxiliares só teriam chamado o ditador depois das 10 horas. Outros dão conta de que ele teria levantado sozinho quando já passava do meio-dia. Ao ser informado da magnitude do ataque, Hitler desdenhou: “A notícia não poderia ser melhor. Enquanto estavam na Grã-Bretanha, não poderíamos alcançá-los. Agora estão onde podemos destruí-los”.

 

O Füher tinha um encontro com diplomatas e políticos da Hungria, Romênia e Bulgária. Ao entrar na sala estava radiante: “Começou, afinal!”. Logo depois, desenrolou um mapa da França e disse ao comandante da Luftwaffe, Hermann Göring: “Eles estão desembarcando exatamente onde esperávamos!”. Göring preferiu não corrigi-lo.

 

 

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