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Carnaval de 1945 e a Guerra pelo Carnaval!


 O Artigo abaixo foi retirado e adaptado da obra As Fornalhas de Março – História das Eleições no Recife – Volume 1, de Romildo Maia Leite – Edições Bagaço, 2002. Uma excelente e obrigatória leitura para aqueles que querem entender como a Segunda Guerra Mundial afetou o cotidiano do brasileiro, mas especificamente do recifense.

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Como se justificar que, nestes dias de dor, de luto e miséria para a humanidade, se leve a efeito a realização de um carnaval já condenado pela sadia opinião pública do país. Esse foi o protesto do jornal A Gazeta, um jornal católico conservador da cidade do Recife que circulou na década de 40.

Alguns jornais e personalidades da vida social pernambucana defendiam que o Carnaval de 1945 não se realizasse, alegando que o clima era de consternação pelos mortos no conflito, inclusive vidas brasileiras, que se arrastava há mais de cinco anos.  O rigor do protesto viria contra a festividade via em apoio a proibição do Chefe de Polícia do Distrito Federal (então na cidade do Rio de Janeiro), que proibia carnaval de rua, e apenas autorizava o carnaval em clubes e sem máscaras. O objetivo economizar gasolina e evitar a ação de agentes subversivos. Declara o Chefe de Polícia do Distrito Federal: “Os clubes de fechassem ao Frevo, pois se trata de uma dança muito violenta, que tem dado lugar a muitos incidentes”.

Em protesto, outras personalidades se levantaram em defesa da tradição da festa de rua mais popular do país. O jornalista Mário Melo em sua coluna no Jornal Pequeno, jornal tradicional da capital pernambucana, consolidou a defesa:

“Todos os anos, o inimigos do carnaval põem a máscara de fora, procurando pretexto que impeça e entretenimento popular. Um, o mais batido, já não provoca efeito: o carnaval tem suas origens no paganismo. No ano passado, não tínhamos soldados em guerra e não era possível fazer-se carnaval de rua, podendo, no entanto, ser permitido nos clubes. Traduzindo: a gente de colarinho branco e gravata, que bebe champanhe e gim, pode embriagar-se nos clubes, mas os pés raspados, que trabalham no duro, não!”

Muitos alegavam que não era certo que, não admitiam que o povo se atirasse no Frevo, enquanto no front de guerra nossos irmãos se batem denodadamente pela causa das Nações Unidas.

No dia 9 de janeiro de 1945, Mário Melo entra em um dos mais tradicionais Cafés do Recife com sua Crônica  do Jornal do Commercio, bate no balcão e grita: “Por acaso, e em qualquer canto, deixou de haver algum banquete ou recepção festiva às altas personalidades por motivo de guerra?”

Em seguida o Cônego Jerônimo Assumpção, Vigário da paróquia da Boa Vista escreve:

  – São Paulo, que é o Estado mais civilizado do país, está acabando com o carnaval: de ano para ano, cresce o ânimo das pessoas que dão as costas ao tumulto carnavalesco, procurando refúgio nos campos e nas praias. E a mesma coisa vem ocorrendo com a população carioca.

 

No dia 2 de fevereiro acabou a polêmica. A esquina do Lafayete presenciou o desmentido de que o carnaval era incompatível com a guerra. Ancorados no porto do Recife, Marinheiros do encouraçado São Paulo organizaram a troça Mimosas na Folia. E desfilam ruidosamente, cantando Carnaval da Vitória, de Nelson Rodrigues Ferreira e Sebastião Lopes.

 Pela primeira vez vestidos de mulher. Musculosos e atléticos, os marinheiros de guerra do Brasil introduziram no carnaval pernambucano um hábito até então absolutamente carioca.

 No porto da resistência democrática, ancoravam também frevo e povo. Alegres prostitutas, de braços dados com suados estivadores e marinheiros, desceram do cais.

No final sai nos principais jornais:

– Houve carnaval. A derrota do quinto-colunismo foi absoluta. Houve carnaval dos mais animados, o povo divertiu-se e está pronto para receber a notícia da derrota de Hitler…

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A galeria de fotos abaixo é de autoria do Pierre Verger de sua coleção do Carnaval de Pernambuco. É de 1947, mas não é muito diferente do Carnaval de Rua defendido por Mário Melo dois anos antes.

As fotos foram enviadas pelo poliglota, pesquisador, historiador, atleta da voz e contador de causos, Tenente Silvio Mário Messias.

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