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O 1º Desertor da F.E.B – Um Herói!


 Esse depoimento foi escrito pelo então Coronel Floriano de Lima Brayner, Chefe do Estado Maior da Força Expedicionária Brasileira, e nos mostra um fato curioso sobre o Embarque do 1º Escalão para a Itália.

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O General Mascarenhas de Morais desencadeou a operação “embarque” que importava lançar o Grupamento nº 1 (1º R.I.) para Santa Cruz, onde estacionaria como se estivesse embarcado; o Grupamento 11º (11º R.I.) para o Recreio dos Bandeirantes, com o mesmo objetivo: finalmente, o Grupamento nº 6 (6º R.I) para o embarque real.

Vinte e quatro horas depois entrava no porto do Rio de Janeiro o poderoso transporte “General Mann”, super-artilhado, com alojamento para 6.000 homens. Atracou no Armazém 2 do Cais do Porto, abriu os portões do embarque, e às 21 horas dessa jornada de 30 de junho começou a “engolir” os 6 mil homens do 1º Escalão de Transporte. Mascarenhas, cuja bagagem já estava embarcada, presidiu todos os detalhes da operação, com serenidade e a costumeira energia. Como Comandante da Área de Embarque, eu o assessorava em todos os momentos.

Presentes e extremamente atentos, dois generais americanos, vindos especialmente para presenciar o embarque, eram assessorados pelo General Kröner, Adido Militar dos Estados Unidos. Em dado momento, algo inesperado aconteceu: uma patrulha de Fuzileiros Navais que fazia a Segurança da Área de Embarque, encontrou um soldado expedicionário escondido. Leva-o imediatamente à presença do Grupo de Autoridades presentes, com grande desgosto para o nosso Comandante que não teve meias-palavras para invectivar aquele que considerou o desertor nº 1 da F.E.B. O homem ouviu a torrente de insultos de cabeça baixa, sem esboçar a mínima reação. A mesma patrulha levou-o até a escotilha de embarque, entregando-o ao oficial que fiscalizava a entrada dos homens. Algum tempo passado, uma escolta de bordo bem à presença das autoridades, com o pretenso desertor, declarando, de Ordem do Ten.Cel. Motta, que dirigia a operação dentro do navio, que o homem não pertencia a nenhuma das unidades embarcadas! Surpresa Geral. Emoção. A informação dizia  que o homem não era tipicamente um desertor. Ao contrário; ele estava ali para tentar o embarque como clandestino, de vem que a sua unidade – Um Grupo de Artilharia – estava na Vila Militar e só embarcaria no 2º Escalão.

E porque esse interesse em seguir com o 1º Escalão?
Simplesmente por motivo sentimental. Um companheiro e conterrâneo da cidade mineira, amigo de família, seguia no 1º Escalão.
Ao partirem de sua cidade para se incorporarem à F.E.B. trocaram juramentos perante seus pais, de que zelariam sempre, um pelo outro. Naquele momento, quando as circunstâncias iriam os separar – um seguia no 1º Escalão, enquanto a unidade do outro permaneceria no Rio, o peso do juramento prevaleceu, e ele aproveitaria a confusão dos últimos momentos e entraria no navio, para esconder-se e só aparecer quando estivesse ao largo e aceitassem o fato consumado, de um clandestino que não seria devolvido. Um plano simplista, ingênuo e convincente. Os Chefes militares reunidos ali, ouviram-no conta com desembaraço, a proeza frustrada e, mais do que isso, o apelo veemente, em tom dramático, para que o deixassem seguir com seu companheiro, da cidadezinha mineira. O Gen. Mascarenhas que tivesse expressões candentes ao classifica-lo como 1º desertor da F.E.B., só faltou-lhe pedir desculpas, censurando-o, todavia por ter permanecido silencioso quando verdadeiramente insultado e ofendido nos seus brios.

Afinal de conta o homem era mais herói do que covarde!

Fonte: Brayner, Floriano de Lima –  Recordando os Bravos, Civilização Brasileira – São Paulo, 1977.

  1. 10/01/2012 às 10:29 PM

    Histórias da nossa vitoriosa FEB ! Fantástico o relato !

  2. 11/01/2012 às 9:15 AM

    Uma bonita prova de amizade.

    Aproveitando, aquele site que disponibilisava os filmes sobre a 2ª guerra parou de postar, será que existe algum outro, precisei formatar o meu micro, e perdi toda minha coleção sobre o assunto.

    Se puder ajudar, agradeço muito.

    Atenciosamente;

    Eder José Tomaz
    COOPERTRAFO

  3. 12/09/2012 às 1:50 PM

    muito bom!

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