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Campo de Concentração de Tomé-Açú – Pará
Campo de Concentração de Tomé-Açú
O Campo de concentração de Tomé-Açú, no Pará, localizava-se a 200km de Belém, na bacia do rio Acará, pertencendo ao município de mesmo nome. Antes de se transformar em colônia de internamento, era um núcleo de imigração japonesa no Amazonas, que recebera nipônicos em 1929. Os imigrantes chegaram por ali pela Cia. De Imigração Nantaku – Companhia de Colonização Sul-Americana S.A. -, que havia obtido a concessão de uma milhão de hectares para acomodá-los. A propagação da malária e o fracasso do empreendimento do cultivo do cacau, para qual as terras foram propícias, fez com que a Nantaku reduzisse sua atuação em meados da década de 1930, provocando um êxodo na região.
Segundo declaração do Chefe de Polícia do Pará, registradas pela impressa de Tomé-Açú, a Companhia Nipônica de Plantações no Brasil tinha concessão para “operar atividades agrícolas” neste município, estava “em franco declínio com falta de movimento na agricultura”, e os agricultores imigrantes abandonavam seus serviços, engajando-se nos trabalhos da estrada de ferro ou seguindo para São Paulo.
Após o rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e os países do Eixo, em 29 de janeiro de 1942, a colônia agrícola de imigrantes japoneses passou a receber especial atenção dos serviços policiais, pois, segundo Salvador Rangel de Borborema, Chefe de Polícia do Pará, ali estava um dos maiores centros de “súditos do Japão”. Em dezembro de 1941, Olavo Mamede da Costa havia assumido o posto de delegado de Polícia da região. Para lá também fora enviado “um destacamento de cinco praças, sob o comando de um Cabo, devidamente armado e municiado”. Desde então, os japoneses de Tomé-Açú tiveram suas armas recolhidas pela Delegacia Especial de Segurança Pública e Social e instalou-se no local um posto telegráfico para comunicações rápidas entre as autoridades policiais.
Alguns meses mais tarde, a região foi transformada pelo governo em campo de concentração para os imigrantes japoneses que lá residiam. Todavia, ele acomodou dezenas de japoneses provenientes de outras localidades do Estado, além de alemães e italianos vindos do sul. De acordo com Salvador Borborema, a polícia constatou que muitos do japoneses que viviam no Estado estavam imigrando na condição de agricultores e lá viviam “humildemente, como vendedores ambulantes, hortelões etc. ”. No entanto, descobriu-se na residência de alguns deles, a partir de buscas e investigações policiais, que esses japoneses eram “médicos, engenheiros e oficiais das forças armadas nipônicas” e, por esse motivo, foram detidos e enviados para Tomé-Açú. A posição geográfica era ideal para a finalidade de confinamento, visto que a região, cercada por densa floresta, tinha na via fluvial o único meio de acesso. Até 1945, os internos viveram sob a vigilância das autoridades brasileiras que impunham sérias restrições ao seu cotidiano.
Em 10 de outubro de 1942, Haraldi Sioli, zoólogo alemão de 32 anos, chegou ao local como prisioneiro. Em 17 de outubro, vieram 28 alemães que deveriam ficar internados junto com os japoneses. Segundo o Chefe de Polícia do Pará, eles foram presos em nome da segurança e dos interesses nacionais – eufemismo para nazista ou espião.
Fonte: Prisioneiros de Guerra – Os “Súditos do Eixo” nos campos de concentração brasileiros (1942-1945) – Editora Humanitas – São Paulo – 2010