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O Lobo Cinzento U-199 e o Tenente Torres

No próximo domingo, 31 de julho, iremos comemorar o 68º aniversário do afundamento do submarino U-199 pelo Aspirante-a-Oficial-Aviador da Reserva ALBERTO MARTINS TORRES, da Força Aérea
O Autor do Artigo abaixo é o Tenente Sérgio Pinto Monteiro que realizou um trabalho brilhante de pesquisa histórica, e a publicação tem por objetivo contemplar o esforço na preservação da História do nosso país.

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No final de 1942, a Alemanha começou a lançar novos submersíveis para a sua frota oceânica. O tipo IXD2 tinha como principal missão bloquear, ainda mais, o fluxo de matérias primas necessário ao esforço de guerra de seus inimigos. Os submarinos do tipo IXD2 (very long-range) da 12º flotilha – Bordeaux – começaram a operar em novembro de 1942. Considerados, na época, como de última geração, eram capazes de executar patrulhas de ataque em regiões afastadas do Atlântico Sul. Em suas longas jornadas, eram abastecidos em alto mar por unidades submarinas de apoio, chamadas “vacas leiteiras”, estendendo assim, ainda mais, sua grande autonomia de 44.000 Km. Deslocava 1.600 ton. Sua velocidade na superfície atingia 20,8 nós e submerso chegava a 6.9 nós. Como armamento de convés tinha um canhão naval de 105mm, dois canhões antiaéreos – de 37 e 20 mm – e duas metralhadoras pesadas. Podia operar com 24 torpedos e 44 minas. Sua tripulação era de 61 homens. O U-199 era comandado pelo Kapitänleutnant (capitão-tenente) Hans-Werner Kraus, de 28 anos.

     O“Lobo Cinzento” U-199 (o submarino era pintado no estilo camuflado nas cores cinza-claro, marrom e azul cobalto, e tinha na sua torre o desenho de uma embarcação viking), partiu de Kiel em 13 de maio de 1943,  chegando à sua área de patrulhamento, ao sul do Rio de Janeiro, em 18 de junho. Durante a investida na costa brasileira, o U-199 fez as seguintes vítimas:

  – 27 de junho: disparou três torpedos contra o cargueiro artilhado norte-americano Charles Willson Peale, da Classe Liberty, a 50 milhas ao sul do Rio de Janeiro, errando dois torpedos e danificando o navio com o terceiro.  A embarcação respondeu com seu armamento, provocando a fuga do submarino. O navio conseguiu chegar ao porto do Rio de Janeiro.

       – 03 de julho: foi atacado, sem danos, por um avião A-28A Hudson, operando da Base Aérea de Santa Cruz,

       – 03 de julho: durante a noite foi atacado e abateu um hidroavião PBM 3 martin mariner do VP-74, esquadrão americano parcialmente baseado no Galeão, comandado pelo Tenente Harold Carey. Toda a tripulação pereceu.

       – 22 de julho: atacou e afundou a tiros de canhão o pequeno barco de pesca brasileiro Shangri-lá, matando seus 10 tripulantes.

       – 24 de julho: atacou e afundou o cargueiro inglês Henzada, de 4.000 ton.

O Afundamento do U-199

    31 de julho de 1943, pela manhã. O U-199, navegando na superfície, avistou um avião ainda distante e o comandante Kraus, na torre, comandou força total à frente e mudança de rota. A tripulação teria entendido mal a ordem e iniciou uma frustrada submersão, que retardou a fuga do submarino. A antiaérea foi acionada. O avião americano, um PBM 3 martin mariner comandado pelo Tenente Walter F. Smith, lançou seis bombas de profundidade MK47 que danificaram o submarino impedindo-o de submergir. Dado o alerta pelo rádio, foi acionada a Força Aérea Brasileira através de um avião Hudson A-28A pilotado pelo Aspirante da Reserva Sérgio Cândido Schnoor, que lançou duas bombas MK17 que explodiram próximas ao alvo, sem, entretanto, provocarem maiores danos. Numa segunda passada, a nossa aeronave metralhou o convés do submarino, atingindo alguns artilheiros das peças antiaéreas. Finalmente, também alertado pelo rádio, surgiu um hidroavião “CatalinaPBY-5 da FAB, pilotado pelo Aspirante Torres que, especialista naquele avião, pode demonstrar toda a sua perícia. Na primeira passagem, com todas as suas metralhadoras .50 disparando, lançou três bombas MK44 . Ele próprio, em seu livro “Overnight Tapachula” (1985, Ed. Revista de Aeronáutica) descreve o ataque:

      “Já a uns 300 metros de altitude e a menos de um quilômetro do submarino podíamos ver nitidamente as suas peças de artilharia e o traçado poligônico de sua camuflagem que variava do cinza claro ao azul cobalto. Quando acentuamos um pouco o mergulho para o início efetivo do ataque, o U-199 guinou fortemente para boreste completando uma curva de 90 graus e se alinhou exatamente com o eixo da nossa trajetória, com a proa voltada para nós. Percebi uma única chama alaranjada da peça do convés de vante, e, por isso, efetuei alguma ação evasiva até atingir uns cem metros de altitude, quando o avião foi estabilizado para permitir o perfeito lançamento das bombas. Com todas as metralhadoras atirando nos últimos duzentos metros, frente a frente com o objetivo, soltamos a fieira de cargas de profundidade pouco à proa do submarino. Elas detonaram no momento exato em que o U-199 passava sobre as três, uma na proa, uma a meia-nau e outra na popa. A proa do submersível foi lançada fora d’água e, ali mesmo ele parou, dentro dos três círculos de espuma branca deixadas pelas explosões. A descrição completa sobre a forma por que as cargas de profundidade atingiram o submarino me foi fornecida em conversa que tive com o piloto do PBM, tenente Smith, que a tudo assistiu, de camarote, e que inclusive me presenteou com uma fotografia do U-199. Em seguida, nós abaixáramos para pouco menos de 50 metros e, colados n’água para menor risco da eventual reação da antiaérea, iniciamos a curva de retorno para a última carga que foi lançada perto da popa do submarino que já então afundava lentamente, parado. Nesta passagem já começavam a saltar de bordo alguns tripulantes. Ao completarmos esta segunda passagem é que vimos o PBM americano mergulhando em direção ao objetivo. Depois saberíamos de onde viera. Transmitimos com emoção o tradicional SSSS – SIGHTED SUB SANK SAME – em inglês, usado pelos Aliados para dizer: submarino avistado e afundado – e ficamos aguardando ordens, sobre o local. Em poucos segundos o submarino afundou, permanecendo alguns dos seus tripulantes nadando no mar agitado. Atiramos um barco inflável e o PBM lançou dois. Assistimos aos sobreviventes embarcarem nos três botes de borracha, presos entre si, em comboio. Eram doze. Saberíamos depois que eram o comandante, três oficiais e oito marinheiros”.

Era o fim do “lobo cinzento”, primeiro submarino do tipo IXD2 a ser afundado na II GM. Sobreviveram 12 tripulantes, resgatados pelo navio-tender americano USS Barnegat, (o mesmo que socorreu os náufragos do U-513, recentemente localizado no litoral de Santa Catarina), tendo sido encaminhados a uma unidade prisional em Recife e posteriormente enviados aos Estados Unidos. Alguns destes relatos foram obtidos do interrogatório dos tripulantes por autoridades americanas. O comandante Kraus negou o ataque do dia 3 de julho ao PBM3 martin mariner, afirmando que a aeronave explodiu antes de ser atingida pela antiaérea, o que parece improvável.

     O Tenente R/2 Torres foi o único piloto brasileiro que, comprovadamente, afundou um submarino alemão. Pelo feito, recebeu do governo americano a DFC – Distinguished Flying Cross (Cruz de Bravura).

     O Tenente Torres, pilotando o P-47 Thunderbolt A-4, integrou a esquadrilha vermelha e realizou 99 missões de guerra ofensivas (a primeira em 6 de novembro de 1944 e a última em 1º de maio de 1945) e uma defensiva – cobertura de um jogo amistoso de futebol entre combatentes da FEB e do VIII Exército inglês, realizado em Florença – completando um total de 100 missões, tendo sido o recordista brasileiro em missões de combate. Em uma delas, foi condecorado com outra DFC – Distinguished Flying Cross. Recebeu ainda dos EUA, a Air Medal com cinco estrelas, valendo cada estrela como mais uma medalha. Da França, recebeu a La Croix de Guerre Avec Palme e finalmente no Brasil foi agraciado com a Cruz de Aviação Fita A, Cruz de Aviação Fita B, Campanha da Itália, Campanha do Atlântico Sul e a Ordem do Mérito Aeronáutico. O Tenente-Aviador R/2 Alberto Martins Torres foi o grande patrulheiro e caçador da FAB na II guerra mundial.

     Após retornar da Itália pilotando um P-47 Thunderbolt, Torres foi licenciado do serviço ativo e promovido ao posto de Capitão.

Ataque ao U-199

Os sobreviventes

U-199 foi construído no AG Wesser em Bremen, e comissionado em 28 de novembro de 1942. Tradicionalmente, o comandante do U-boat daria um breve discurso seguido do hasteamento da bandeira.

Ficha da Operação com o U-199

Tenente Torres

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