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TOMADA DE MONTE CASTELO – Especial dos 70 anos

Em 24 de novembro de 2014, lembrarmo-nos dos 70 anos do início dos ataques sobre Monte Castelo. Um dos maiores feitos militares do Exército Brasileiro ainda hoje é discutido e questionado, seja no contexto histórico militar ou simplesmente pela ideologia daqueles que criticaram o emprego da FEB.

É importante notabilizar duas coisas acerca do emprego da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para que possamos nos balizar quanto a seu emprego. Primeiramente a FEB não foi empregada no ataque do dia 24 de novembro enquanto Divisão, participando apenas o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria e o 1º Esquadrão de Reconhecimento integrados a Task Force 45, sob comando americano. Portanto qualquer tipo de referência ao primeiro ataque deve levar em consideração não a Divisão Brasileira, mas a Grupo Tático 45. E as características e circunstâncias de emprego da tropa brasileiro segundo as expectativas do V Exército. Essa questão é bem clara quando realizarmos a análise da Conferência do Paso da Futa em 30 de outubro de 1944, quando o General Mark Clark realizou uma exposição sincera da situação do Exército Aliado deste o rompimento da Linha Gótica até os objetivos de tomada de Bologna.

Vamos a partir de hoje realizar um estudo detalhado, com a visão dos envolvidos, dos comandantes aos nossos pracinhas. A ideia é que possamos refletir  e realizar uma análise critica do primeiro ataque, em 24 de novembro, até a tomada final do Monte.

Próxima publicação: Considerações sobre a Preparação da FEB no Grupo Tático

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Respondendo Sobre Monte Castelo!

Maurício Sievers, Veterano do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília e membro do Conselho Nacional dos Veteranos da Polícia do Exército do Brasil (CONAVEPE), enviou-nos questionamentos sobre a atuação da Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), durante os fracassados ataques contra Monte Castelo em novembro e dezembro de 1944, que deixou uma centenas brasileiros mortos e feridos e estacionou o avanço Aliado na conquista do Vale do Pó.  Eis os questionamentos:

“[…]Gostaria de saber do nobre amigo, […] em especial sobre as várias tentativas fracassadas da TOMADA DE MONTE CASTELO, que além do Terreno íngreme, Tiros, Lama, Frio, Bombardeios, o Medo corroendo o estômago e a presença constante da morte, foram alguns dos detalhes que rondaram as mentes e corpos dos bravos heróis, também podemos dizer que as FALHAS ESTRATÉGICAS devem-se a INEXPERIÊNCIA e a falta de HABILIDADE do General Zenóbio da Costa e de todos os seus comandados, foram responsáveis pelo tombamento de tantos homens naquela missão? É mito ou verdade que os Americanos responsabilizaram unicamente o General Zenóbio pelas incursões fracassadas a Tomada de Monte Castelo?” –

Primeiramente, para efeito de conhecimento, o Marechal Zenóbio da Costa é o idealizador da Polícia do Exército no pós-guerra no Brasil, portanto mais do que justo discorrer sobre a pessoa do Zenóbio da Costa no ápice de sua carreira militar, que é sua atuação como Comandante da Infantaria Divisionária brasileira no Teatro de Operações do Mediterrâneo.

Tomando como base os questionamentos, evidenciamos duas linhas de argumentação. A primeira é o fato de haver FALHAS ESTRATÉGIAS e que, estas falhas, recaem pela falta de experiência do comandante da Infantaria Divisionária e seus soldados. E o segundo, é que os americanos imputaram a culpa no próprio Zenóbio da Costa.

Na abordagem da primeira visão, tomaremos o conhecimento sobre a hierarquia que acompanhava a Força Expedicionária Brasileira na Itália. Segundo o Marechal Lima Brayner, então Chefe do Estado Maior da Divisão Brasileira, em 01 de agosto de 1944, “A 1ª Divisão Brasileira foi realmente incorporado ao 5º Exército do IV Corpo de Exército Americano”.

A 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, comandado pelo General de Divisão Mascarenhas de Morais, era formada pelo QG da 1ª DIE, Estado Maior Divisionário (1ª, 2ª, 3ª, 4ª Seção e, claro Chefia), Estado Maior Especial, Tropa Especial (onde está incorporada o Pelotão de Polícia, comandada pelo 1º Tenente R/2 José Sabino Monteiro), e o Depósito Divisionário.

A Infantaria Divisionária (Não confundir a 1ª DIE) comandada pelo General de Brigada Zenóbio da Costa, tinha sob seu comando o 1º, 6º e 11º Regimento da Infantaria.

As operações ofensivas eram determinadas pelo comando do V Exército e o Estado-Maior da Divisão realiza o planejamento da operação, cabendo ao comandante da Infantaria Divisionária dispor suas tropas, segundo as determinações para execução das operações da 3ª Seção do Estado Maior da Divisão, este chefiado pelo Coronel Castelo Branco (futuro Presidente do Brasil).

Lembremos que o houve quatro ataques a Monte Castelo. Dias 23 e 24 de novembro, ataques coordenados pela Task Force 45 americana, envolvendo apenas o III Batalhão do 6º RI; dias 29 de novembro e 12 de dezembro, envolvendo toda a Divisão Brasileira e coordenada pelo próprio Mascarenhas de Morais. As análises do desempenho das tropas brasileiras estão fixadas apenas nas últimas duas operações.

Podemos elencar vários motivos que levaram o fracasso e consequente perda de vidas brasileiras, mas nada relacionado à atuação do General Zenóbio da Costa.  Podemos afirmar, com base nos registros das operações fornecidas pelo próprio Chefe do Estado Maior da Divisão, Coronel Lima Brayner e a análise da obra “A FEB por um Soldado”, de Joaquim Xavier Silveira, que a 3º Seção Divisionária expediu ordens diretas de colocar tropas em linha recém-chegadas, como é o caso 11º RI, além de operações sucessivas utilizando a mesma estratégia e com tropas cansadas como erros estratégicos para o fracasso desses ataques. Outro ponto foi à falta de coordenação em todos os ataques. A Hora H, que deveria iniciar o ataque, não foi obedecida pelos elementos envolvidos, acabando por alertar o inimigo em diversos setores. O General Zenóbio tentou executar ordens expedidas diretamente oriundas do Comando da Divisão, não por sua estratégia. A questão da culpabilidade do General Zenóbio é irreal.

Com relação à falta de experiência e habilidade do General Zenóbio, é impensado que a Destacamento da FEB, formado em setembro de 1944 havia conseguindo várias vitórias tendo como comandante o Zenóbio da Costa, portanto qual o motivo de expor sua falta de experiência? A campanha do Destacamento da FEB entre setembro a dezembro daquele ano prova que o Comandante da Infantaria já tinha provado seu valor na campanha, e se ainda assim, havia falta de experiência, esta não concorreu para o resultado final da Batalha. O dispositivo para os ataques foram dispostos no terreno depois de um exaustivo deslocamento, adiciona-se a isso, vários outros fatores, fora do controle do comandante da infantaria, incluindo as bem fortificadas posições do inimigo.

Não há, pelo menos da historiografia atual, qualquer indicação de que os americanos colocaram a culpa no fracasso no próprio General Zenóbio da Costa, pois seria ilógica essa acusação. O Oficial de Ligação do Comando do Estado Maior do V Exército dentro da própria Divisão Brasileira era o Coronel Stevenson G. Carrel, que tinha por missão repassar todas as informações ao General Clinttemberg, comandante do V Exército. Portanto, o comando americano sabia que as estratégias escolhidas para os ataques partiram do Estado Maior da Divisão, diga-se de passagem, com animosidades entre o Coronel Kruel (Chefe da 2ª Seção) e do Coronel Castelo Branco (Chefe da 3ª Seção).

Então, temos o último questionamento, os fracassos de Monte Castelo foram provocados, principalmente, pela falta de experiência do próprio soldado brasileiro? A resposta pessoal para essa afirmação é não! Não foi o principal elemento do resultado da Batalha. Pois, nos ataques anteriores, desferidos por experientes tropas americanos não tiveram êxito. Mas é evidente que houveram sérios problemas de conduta de campanha da nossa tropa. Principalmente se levarmos em consideração que a Divisão utilizou tropas ainda no período de adaptação ao Teatro de Operações. Cito aqui um evento ocorrido por ocasião da substituição de tropas do 1º Regimento de Infantaria por elementos do III/Batalhão do 11º Regimento, que chegaram rapidamente já tendo que defender uma linha nas proximidades de Guanela, no dia 01 de dezembro de 1944. Posição conquistada duramente dois dias antes. Um determinado comandante de Companhia, ligou para o Comando do Batalhão informando que a posição da Companhia estava sendo atacada e que ele iria abandonar a linha. De imediato foi enviado reforços para a Companhia. Uma granada de artilharia atinge a retaguarda do PC da Companhia e o Capitão abandona seu posto e seus soldados o seguem. Esse capitão é substituído e retorna para casa. É importante dizer que isso é comum em qualquer Exército. Mas a falta de experiência em combate era notável entre as nossas tropas, nas não foi determinante para o resultado em Monte Castelo.

Lembro que o soldado brasileiro fez sua fama exatamente depois dos malogrados ataques em dezembro de 1944, a partir dai, passamos a realizar patrulha e defender uma Linha de dezenas de quilômetros, durante todo um rigoroso frio e tenebroso inverno. Até que em fevereiro de 1945, tomamos em definitivo este que é para Força Expedicionária Brasileira símbolo do sangue derramado de nossos soldados e orgulho de nossa vitória.

Tomanda de Monte Castelo – Uma Pequena Reflexão

A Ideologia política, partidária, filosófica ou qualquer outra é como bebida alcoólica, tem que ser usada com moderação. Os extremismos ideológicos talvez sejam os agentes que impulsionaram o mundo para o caos desde os tempos imemoráveis. Infelizmente, de um modo geral, a humanidade ainda busca esse equilíbrio para aplicar determinadas ideologias sem sufocar outras. Alguns povos, partidos políticos e pessoas, ainda tem dificuldade para aceitar a coexistência ideológica. Podemos citar o Bolchevismo da Revolução Russa de 1917 e sua aplicação prática, principalmente através do ditador Stálin, que implementou uma dura política de destruição completa de outras ideologias consideradas incompatíveis com a do Estado. Hitler, obviamente, seria outro exemplo do extremismo ideológico. Em seu discurso durante a campanha presidencial de 1932, declara que não tem pretensão de adotar o multipartidarismo ou outra ideologia diferente do nacional-socialismo, pois seu objetivo era acabar com todas as ideologias partidárias existentes.

Esta exposição, guardada as devidas proporções, nos leva a uma reflexão sobre nosso cenário político. É evidente o esforço dos vários setores do governo para enfraquecer ou dizimar qualquer tipo de visão ideológica que se diferencie da percepção petista de mundo. Especificamente sobre a percepção da Presidente Dilma, ela já deu várias demonstrações que não consegue dialogar de forma ponderada com outros segmentos opositores, e que ainda guarda, de forma travestida, os mesmos pensamentos pseudo-revolucionários dos movimentos estudantes que tentaram instalar um regime de exceção no país.

E o que isso tem haver com a Tomada de Monte Castelo? A conquista militar que completa 69 anos é um, em vários outros eventos, que o Governo atual esmera esforços para que o povo brasileiro não tome conhecimento. Basta lembrar a proibição explícita do governo para não haver referência nos aquartelamentos aos eventos ocorridos em 31 de março 1964. A Tomada de Monte Castelo é um feito do Exército Brasileiro e do Povo Brasileiro. Muito sangue nacional foi derramado para que este Monte figurasse como uma conquista brasileira. É importante que se faça referência aos mortos em Monte Castelo, pois a bravura do soldado brasileiro esteve acima de qualquer erro de comando ou importância estratégica dos Aliados para aquele Teatro de Operações e é inquestionável. Monte Castelo, por maior ou menor importância que se possa dar, tem em cada centímetro de terreno conquistado a marca da bravura da mistura das raças que se fizeram presente neste feito militar, tanto quanto nas Batalhas dos Guararapes, marca de formação do senso de nação. Por isso, é importante que os jovens desta geração possam ter conhecimento do sacrifício de vidas brasileiras na Itália. E que nenhum governo transitório pode renegar as raízes de honra e entrega sacrificial que nossos soldados deram para elevar a Bandeira do Brasil, que é infinitamente mais altiva do que qualquer bandeira de partido político ou ideologia.

Conclamamos todos que são conhecedores dos feitos dos brasileiros no Teatro de Operações da Itália – refiro-me ao sacrifício daqueles que lutaram na Itália, não apenas os mortos, mas também aqueles que deixaram parte de sua juventude nesta campanha – que possam sempre que possível fazer referência à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial e não deixar que a ideologia de um governo transitório ignore a história do nosso Exército, pois a História do nosso Exército é a História do nosso próprio povo, com todas as suas perfeições e imperfeições. E que os 69 anos da Tomada de Monte Castelo possa residir de forma permanente na memória do nosso povo.

Tomada de Monte Castelo: Uma Solenidade de Reconhecimento Histórico

Muito se fala nesse país em memória curta, em povo sem memória. Contudo, podemos afirmar e testificar que nesse país sempre haverá homens  comprometidas e preocupadas com a preservação histórica. Para tanto, podemos pontuar a solenidade alusiva a Tomada de Monte Castelo realizada no último dia 22 na 7ª Região Militar  – Região Matias de Albuquerque.

 Estavam presentes vários Veteranos da Força Expedicionária Brasileira juntamente com personalidades que prestigiaram a solenidade. Nesta formatura, tão significativa para a história do Exército Brasileiro, os pontos mais marcantes, além das presença dos protagonistas da Batalha, a entrega da Medalha Aspirante Mega. Essa medalha, de grande valor moral e de liderança, já que carrega o nome de um exemplo de liderança militar em combate, foi entregue a homens que se destacaram na vida militar ou em atividades relevantes para preservação da memória da Força Expedicionária Brasileira.

 Além do  próprio Grupamento Aspirante Francisco Mega que tem voluntários em seus quadros que reconhecem a necessidade de chamar a atenção da atual geração para os sacrifícios que outras gerações tiveram que fazer para  a manutenção da liberdade no mundo.

Nada mais justo do que reverenciar e agradecer aos líderes e chefes militares que preconizaram e idealizaram esse belíssimo exemplo de preservação histórica; preservação dos valores que honram a memória daqueles que perderam suas vidas nesta horrível, mas necessário batalha.

Tomada de Monte Castelo: 7ª Região Militar Realiza Solenidade Alusiva

No dia de ontem (22/02), a 7ª Região Militar, Região Matias de Albuquerque, realizou solenidade alusiva ao 68º aniversário da Tomada de Monte Castelo, feito da Força Expedicionária Brasileira em 21 de fevereiro de 1945, e o 98º Aniversário deste grande comando.

A 7ª Região é comandada pelo General de Divisão Marcelo Flávio Oliveira Aguiar que não mediu esforços para realizar uma solenidade à altura de nossos Veteranos da FEB e da História da 7ª RM/7ª DE. Vale ressaltar que a Região foi comandada pelo então General Mascarenhas de Morais, entre os anos de 1940 a 1943, sendo um dos grandes comandos que reorganizou a defesa do nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial.

A solenidade contou com a presença de autoridades civis e militares, dentro eles o antigo comandante do Exército General Francisco Roberto de Albuquerque e o Comandante Militar do Nordeste General Odilson Sampaio Benzi.

Evidentemente, um dos destaques principais da belíssima e emocionante formatura foi à presença de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira – Regional Pernambuco, que desfilaram em viaturas de época , seguidos pelo Grupamento Histórico Aspirante Francisco Mega, grupamento composto de integrantes da Associação SEMPRE Polícia do Exército, utilizando réplicas dos uniformes utilizados pelos nossos pracinhas na Segunda Guerra Mundial.

O emocionante desfile perpetrou a máxima reverência aos brasileiros que tentaram nos meses de novembro e dezembro de 1944 a conquista de uma elevação bem defendida, que ceifou a vida de valentes soldados do Exército Brasileiro.

Mascarenhas de Morais: Um Exemplo de General Brasileiro

 Relato retirado do livro Crônicas de Guerra do Coronel Olívio Gondim de Uzêda, comandante do 1º Batalhão do 1º Regimento de Infantaria, Regimento Sampaio.

Relato:

             O Coronel Mascarenhas de Morais já fora nosso Diretor de Ensino, quando cursávamos a Escola das Armas, já fora nosso comandante, quando éramos instrutores na Escola Militar.

                Tornamos a servir sob o comando do general Mascarenhas de Morais, fora um dos motivos que nos alegraram ao sermos designados para servir na FEB.

                E não erramos: onde quer que nos achássemos tínhamos sempre a nos orientar e a nos estimular o nosso dedicado chefe.

                Estava nosso Batalhão aguardando ordens em Gagio Montano para o nosso primeiro ataque ao Monte Castelo quando aí foi ter ao nosso Posto de Comando o nosso General.

                O inimigo nos vinha bombardeando cerradamente, e foi nesse ambiente que nosso chefe nos veio trazer suas palavras de estimulo.

                As granadas caiam mais amiudamente em torno da casa onde nos achávamos e o nosso comandante em chefe, sereno e imperturbável continuava falando-nos.

        Com o mesmo ardo patriótico o nosso comandante nos telefonou no dia 21-2-45, quando nosso Batalhão atacava pela segunda vez Monte Castelo, concitando-nos, estimulando-nos: que era o nosso dia, o dia do nosso Brasil, e que ele confiava em nós. O ataque estava planejado, apenas sendo montado: ia ser iniciado dentro em breve, mas o fizemos com redobrado entusiasmo ante as palavras do nosso General, o comandante que se lembrou dos subordinados aos quais confiara tão importante missão.

                E foi com o coração cheio de fé que respondemos ao nosso querido chefe: o nosso Batalhão vos dará o Castelo hoje! E deu!

                E o nosso General prosseguiu conosco!

            Um dia achávamo-nos no inverno. A neve prosseguiu caindo impiedosamente, dificultando nossos transportes e deslocamentos, antecipando a explosão de nossas minas, arrebentado nossos fios telefônicos, fazendo ruir a cobertura dos abrigos, recrudescendo a vida nas trincheiras.

                Eis que surge no Post de Comando do Batalhão o nosso General. Queria ver nossas posições. Mostramos-lhe o depósito de rações e o posto de remuniciamento e depois as posições dos morteiros.

                Fomos alguns metros mais à frente de Jeep e dissemos ao nosso General que daí não podíamos prosseguir senão a pé, já porque a neve, muito profunda, dificultava o emprego do jeep, como porque o itinerário, que daí nos conduzia a qualquer elemento de fuzileiros, estava submetido às vistas e fogos inimigos. Em face disso propusemos ao nosso General, apenas mostrar-lhe a posição do canhão de 57mm que havia atirado sobre Pietra Colora e uma metralhadora de calibre 50 em defesa contra a aviação. Ele viu isso tudo e por fim repetiu: quero ver os fuzileiros. O ajudante de ordens do nosso comandante em chefe, por sinal seu genro, lançou-nos um olhar significativo. Ponderamos ao nosso General, apresentamos-lhe as mesmas razões: o itinerário era perigoso e muito cansativo, o inimigo observava nossos movimentos, a neve ali tinha mais de 80 cm de espessura.

                Ele respondeu energicamente, em tom que não admitia réplica: vocês estão me fazendo mais velho do que sou! É meu deve estar com meus soldados onde eles se acharem e eu quero vê-los.

                Arranjamos uma capa branca, para disfarce na neve e uma bengala ferrada para o nosso General. Lembramos-lhe que devíamos marchar distanciados, para dificultarmos os tiros e as observações dos inimigos.

                Partimos à frente para mostrarmos o itinerário, e de quando em vez olhávamos para trás.

                Lá nos seguia, num magnifico exemplo de cumprimento do dever, de tenacidade e de destemor, o nosso querido General!

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Patrulha de Infantaria – A Morte no Caminho

Depois das frustradas operações brasileiras sobre Monte Castelo, toda as ofensivas Aliadas nos Apeninos foram suspensas com a chegada do inverno italiano, essa fase da guerra se estendeu até fevereiro de 1945, quando se deu início a ofensiva do V Exército no Teatro de Operações da Itália.

No período compreendido entre dezembro de1944 afevereiro de 1945, as operações contra os alemães se resumiram as constantes patrulhas que objetivavam capturar inimigos e monitorar a movimentação e manutenção da linha de frente. Esse árduo trabalho foi desempenhado de forma brilhante pelas tropas brasileiras, tanto que o pracinha brasileiro ficou conhecido por ser um bom patrulheiro. Nomes como o sargento Max Wolf e tenente Iporan eram reconhecidamente exímios nesse tipo de operação.

Essa atividade, bem característica da infantaria, consiste em um ou mais grupo de combate (CG) ou até mesmo um pelotão, sempre atuando próximos ou nas linhas inimigas. A patrulha é uma atividade de enorme risco e não raramente vidas são perdidas no cumprimento dessa missão.

19 de Abril de 2012: 364º Aniversário do Exército Brasileiro

19 de Abril de 2012: 364º Aniversário da Primeira Batalha dos Guararapes, considerada a origem do Exército Brasileiro e da nossa Nacionalidade.

 Nossas homenagens aos bravos heróis de Guararapes: Francisco Barreto de Meneses, comandante das tropas luso-brasileiras; João Fernandes Vieira; André Vidal de Negreiros; Felipe Camarão; Henrique Dias; Antônio Dias Cardoso e tantos outros soldados da nossa História, que lutaram e derramaram o seu sangue para a expulsão do invasor e formação de uma nova Pátria.

 No dia 23 de maio de 1645, no Engenho São João, 18 líderes insurretos firmaram este compromisso imortal:

 “Nós, abaixo assinados, nos conjuramos e prometemos, em serviço da liberdade, não faltar a todo tempo que for necessário, com toda ajuda de fazendas e de pessoas, contra qualquer inimigo, em restauração da nossa pátria; para o que nos obrigamos a manter todo o segredo que nisto convém, sob pena de quem o contrário fizer, será tido como rebelde e traidor e ficará sujeito ao que as leis em tal caso permitam“.
 Surgia, assim, pela primeira vez no Brasil, a palavra pátria, e a firme disposição de instaurá-la, a despeito mesmo de interferências contrárias de Portugal.
 Palavras do Marechal Mascarenhas ao depositar os louros da vitória da FEB nos Montes Guararapes:
“Nesta colina sagrada , na batalha vitoriosa contra o invasor , a força armada do Brasil se forjou e alicerçou para sempre a base da Nação Brasileira.
 Daqui ela partiu e chegou a Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e Fornovo. Na qualidade de comandante da FEB deponho no Campo de Batalha de Guararapes os louros que os soldados de Caxias alcançaram contra tropas germânicas nos campos de batalha do Serchio, dos Apeninos e do Vale do Rio Pó.”
Texto enviado pelo Cel R1 de Eng Luís Osório Marinho Silva

Especial Monte Castelo – 67 anos: 4º ataque ao Monte Castelo

No dia 9 de Dezembro de 1944, foi enviada ao comando da FEB, uma Ordem Geral de Operações que ordenava o ataque ao Monte Castelo, marcando para o dia 11 do mesmo mês, o início das operações.

            Ataque da Divisão da Infantaria Divisionária

  1. A Divisão vai atacar na manhã do dia 11 a região de Monte Castelo
  2. O ataque será executado com os seguintes meios:

            a) O comandante da tropa será o General Zenóbio

            b) A tropa será assim constituída:

            1º Escalão de ataque

            1º R.I. (menos o I Batalhão e a Companhia de Obuses)

            Reserva

            III Batalhão do 11º R.I.

            Cobertura do flanco leste

            I Batalhão do 11º R.I.(além da guarda da base de partida)

            Apoio

            Companhia de obuses do 1º e 1º R.I.

            Companhias P.P./11º R.I.(elementos fixos na base de partida)

            1ª Companhia de tanques( 1 Pel. L.,2 Pels. M. E 1 Pel. T.D.)

            Artilharia

            Cada Batalhão do 1º Escalão de ataque terá um grupo de apoio direto.

            No dia 10 de Dezembro, o comando recebeu a seguinte informação: “ Em virtude de ordem superior, todas as datas e prazos contidos na Ordem Geral de Operações, sofrerão um adiamento de 24 horas”.

            A 2ª Seção repassou as seguintes informações sobre o inimigo no dia 11 de Dezembro:

  • O inimigo dispõe de um Batalhão defendendo a área que interessa à conquista do Monte Castelo, com a possibilidade de se reforçar suas posições, ou efetuar contra ataques com 2 batalhões, que poderão intervir apoiados por tropas de assalto.
  • A região da cota 977 está fortemente organizada, o que indica ser o ponto forte e ao mesmo tempo, sensível das defesas inimigas em Monte Castelo. Possíveis contra ataques contra o setor oeste de Monte castelo deverão ser encarados sobre a crista Oeste –  Leste que vincula o Monte castelo ao Monte Della Toraccia.

            O 4º ataque ao Monte Castelo foi executado sob o comando do General Zenóbio, e a força atacante foi constituída pelo 1º e 11º R.I., ambos desfalcados de uma Batalhão, e apoio foi dado por toda a artilharia da FEB, reforçada com mais um grupo americano. O esforço principal seria feito na direção de Casa Guanella – cota 887 e caberia ao 1º R.I. , enquanto o 11º R.I. Faria a cobertura na área de Falfare.

            Nesta ocasião o frio já era intenso, chuvas torrenciais tornavam o solo um gigantesco lamaçal, que impediam o reconhecimento, além de manter em terra os aviões de reconhecimento, levando o comando americano concordou com a sugestão brasileira para adiar o ataque para o dia 12 de Dezembro, com intuito de esperar melhores condições climáticas. Infelizmente, isso não aconteceu, e a operação que seria desencadeada de surpresa, foi dispensada a preparação da artilharia, que fez uma manobra pelo flanco direito.

            Ao amanhecer o dia, caia uma chuva fina, prejudicando a visibilidade, tornando-a quase nula, e um nevoeiro intenso cobria todo o front. O ataque estava previsto para começar às 6 da manhã, mas por falta de coordenação, a artilharia americana abriu fogo, quebrando o sigilo e, quando os 2º e 3º batalhões do 1º R.I.,partiram às 6:30 horas, os alemães fizeram cair uma chuva de morteiros e metralhadoras, fazendo com que nossos bravos pouco progredissem. Por volta das 7 da manhã o III / 11 R.I., conquistou Le Roncole e Casa Guanella, enquanto o II / 11º R.I., ao atrasar sua partida, foi detido por fogos vindos da Região de Abetaia, e o I / 11º R.I., ocupou Falfare, e finalmente alguns homens do III / 11° R.I., atingiram o cume do Monte Castelo, mas foram abatidos e seus corpos ficaram insepultos durante todo o inverno.

            A noite caiu e mais uma vez o Monte Castelo não foi conquistado pela Força Expedicionária Brasileira.

            Concluímos como prováveis causas do fracasso deste ataque:

  1. o ataque isolado ao Monte Castelo deixando de  lado o Monte Belvedere, Gorgolesco e Toraccia
  2. frente demasiada extensa para a Divisão de Infantaria Expedicionária
  3. vistas e fogos dominantes do inimigo em todos os setores
  4. não obtenção do fator surpresa devido à artilharia americana
  5. condições climáticas inapropriadas(chuva, nevoeiro e lama)
  6. falta de apoio dos blindados e da aviação de caça
  7. inexistência da observação aérea.

            Depois do fracasso deste 4º ataque, nada mais restava ao comando brasileiro a não ser manter a defensiva, e ordens foram dadas para uma pequena retração em busca de um terreno mais favorável.  A Ordem Geral de operações do dia 13 de Dezembro prescrevia como missão manter as atuais posições.

            A partir desta data, até o reinício da luta ofensiva em Fevereiro de 1945, limitou-se a verificação de contato por operações de reconhecimento ou patrulhas, além da intensificação da vigilância.

Especial Monte Castelo – 67 anos: 3º ataque ao Monte Castelo

                                             Monte Castelo – 67 anos

            3º ataque ao Monte Castelo

            Com a determinação de conquistar o conjunto Belvedere – Torracia antes da chegada do inverno europeu, o comandante do IV Corpo – General William Crintemberg, ordenou à Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE) que tomasse posse de Monte Castelo, uma vez que o Monte Belvedere já estava nas mãos dos aliados.

            A ordem era a seguinte: “Dentro de sua ação, capturar a crista que corre de Monte Belvedere para nordeste, inclusive o Monte Castelo, a fim de impedir que o inimigo tenha vistas sobre a Rota 64 (Pistóia – Porreta Terme – Bolonha)” .

            O grupamento de ataque ficou constituído da seguinte forma:

            Comandante: General Zenóbio da Costa

            Tropa – um batalhão por Regimento de Infantaria da Divisão de Infantaria Divisionária:

  • I / 1º R.I. –  Major Uzeda sobre Monte Castelo
  • III / 11º R.I. – Major Cândido cobrindo o flanco
  • III / 6º R.I. –  Major Sylvino

Ficou como reserva divisionária o II / 6º R.I.

            Apoio de 4 grupos de artilharia.

            A missão geral era:

  1. apoderar-se de Morro Castello, com esforço na direção C. Viteline – cota 887
  2. ocupar e manter a linha: cabeceira leste do Rio Liberaccio, vertente norte do Morro do Castello, região de Carrulo, de maneira a impedir que o inimigo transpusesse este , como também  o Rio Marano e, que progrida para cota 930
  3. cobrir-se entre Le Roncole e a região de Gaggio Montano, e levar esta cobertura à crista 1053-1036
  4. unir-se a Task Force 45 na região de Torracia

            Foi informado que a força aérea não daria apoio, haveria preparação de artilharia durante 40 minutos, e a 2ª seção deu como provável a existência de um batalhão inimigo defendendo a posição, podendo ser reforçado em curto prazo, com mais dois batalhões.

            Os reconhecimentos para o ataque foram iniciados no dia 27 de novembro d 1944, e deslocamento dos batalhões ocorreram em condições desfavoráveis, em consequência de grandes chuvas e lamaçais que dificultavam o avanço da tropa, e como fator complicador os batalhões do 1º R.I. E 11º R.I. Iam ter seu batismo de fogo, enquanto as tropas do 6º R.I., estavam exaustas pela longa campanha que vinha sofrendo.

            O General Mascarenhas de Morais tinha como ideia de  manobra, o seguinte esquema:

  1. Manter fortemente as regiões de Africo, Torre de Nerone, Boscaccio e Monte Cavalloro
  2. Apoderar-se no ataque do dia 29 de Novembro de 1944 do Monte Castelo e estabelecer cobertura na região de Falfare para em seguida, em combinação com a Task Force 45, repelir o inimigo das cotas 1027 e 1053.

            Na noite do dia 28 para 29 de Novembro, enquanto se organizava o ataque, a tropa brasileira foi informada da expulsão dos americanos do monte Belvedere, ficando o flanco esquerdo completamente descoberto, e o bom senso sugeria um adiamento das operações, o que não foi feito, talvez por orgulho nacional, em virtude do comando estrangeiro.

            O início das operações estava marcado para começar às 7 horas da manhã do dia 29. No dia 28 de novembro, por volta das 19 horas o I / 1º R.I. Saiu de Gaggio  Montano, e seus últimos integrantes atingiram a base da partida às 6 horas da manhã do dia 29 de Novembro, e o batalhão teria ainda uma hora para iniciar a operação. Do ponto de partida para o objetivo, a distância era de aproximadamente 500 metros e teriam que subir 300 metros.

            A  artilharia atacou pesadamente, antes do avanço da tropa, que começou às 7 horas da manhã pelo I / 1º R.I., que progrediu até o meio dia. Às 8 da manhã partiu o III / 11º R.I. Que após conquistar a cota 760 a oeste de Falfare foi detido à frente de Abetaia.

            Os alemães fortalecidos e melhor instalados, reagiram violentamente, desarticulando o escalão de ataque, que logo depois foi apanhado pelo flanco, e de frente por fogos de metralhadoras instaladas em Mazzancana, Fornace, Cota 887 e Abetaia.

            Na segunda parte do ataque o I / 1º R.I.,  foi obrigado a retornar à base e o III / 11º R.I. Recuou um pouco sob pressão da artilharia inimiga e, com a chegada da noite e a intensificação dos ataques do inimigo, houve uma ordem para o retorno imediato para a posição inicial, não tendo sido empregados o III / 6º R.I., nem a reserva divisionária.

            Pela 3ª vez o Monte Castelo resistiu, deixando cerca de 200 baixas, sendo que apenas uma granada matou 9 de nossos pracinhas. A verdade é que a Divisão de Infantaria Expedicionária não atingiu seu primeiro objetivo ofensivo sob direção exclusivamente brasileira.

            Concluímos que o 3º ataque não teve sucesso, pelo seguinte:

  1. falta de preparação para o ataque
  2. determinação alemã em manter a elevação a todo custo
  3. meios deficientes para concluir o objetivo
  4. ausência do apoio da força aérea
  5. condições climáticas completamente desfavoráveis
  6. ataque frontal ao inimigo
  7. parte da tropa era inexperiente em combates(III / 11º R.I.)
  8. terreno bastante íngreme e muito enlameado.

            Após o ataque frustrado, jaziam sobre o terreno do Monte Castelo inúmeros corpos dos pracinhas, que simbolizavam a bravura do soldado brasileiro.

"Em uniforme de inverno, no mês de Dezembro de 1944, patrulha da FEB se prepara para incursão às linhas alemãs"

 

Na maca, o Batalhão de Saúde transporta um pracinha ferido num dos assaltos ao Monte Castelo

 

 

 

Especial Monte Castelo – 67 Anos da Vitória

Hoje é uma data especial. Enquanto nosso país conclama as Escolas de Samba e os desfiles estonteantes dos blocos carnavalescos, sob a vanguarda da mais tradicional festa brasileira, há exatos 67 anos, várias brasileiros perdiam a vida para dominar e conquistar o Monte Castelo no front italiano durante a Segunda Guerra Mundial. Um bastão alemão que foi conquistado pelas tropas brasileiras em 21 de fevereiro de 1945.

A única forma de reverenciar o sangue brasileiro derramado nessa luta em solo estrangeiro é divulgar a História dessa batalha. Portanto, durante todo o dia teremos publicações especiais sobre os ataques, para que possamos entender a dimensão e a dura missão que foi dado a Força Expedicionária Brasileira.

Desde já agradecemos aos nossos queridos amigos Rigoberto Souza Júnior e Alessandro Santos pela cooperação a esta tão honrada tarefa, de manter viva a memória daqueles que sobreviveram e honrar aqueles que lá ficaram.

Monte Castelo – 67 anos

            1º e 2º ataques ao Monte Castelo

 

            Coube ao 45º  Grupamento Tático americano sob o General Rutledge, e reforçado por um batalhão de Infantaria( III /6º R.I.), um esquadrão de reconhecimento e um pelotão do 9º Batalhão de Engenharia, todos brasileiros, a missão de conquistar as regiões entre Monte Belvedere – Monte Castelo -Abetaia. Estas posições eram defendidas pela aguerrida 232ª Divisão de Infantaria Alemã, que era constituída dos seguintes elementos:

            23º       Batalhão de fuzileiros

            232ª     Regimento de Artilharia

            1043º – 1044º – 1045º Regimentos de Granadeiros

            O inimigo compensava a ausência de sua força aérea com a vantajosa posição dominante e bem preparada.

            O III / 6º R.I., teve a missão de guarnecer uma frente de quase 2 km(Guanella à Casa M. di Bombicina) além de conquistar Monte Castelo, além de prosseguir até Monte Terminale, dois quilômetros após Monte Castelo e, na ocasião o major Sylvino instalou o seu posto de comando na vila de Bombiana por ordem superior. Este batalhão vinha combatendo desde Setembro e seus integrantes esperavam receber um justo repouso, e para complicar ainda mais teriam que atacar em terreno desconhecido e contra posições frontais, operação fadada ao fracasso.

            Somente perto da meia noite de 23 para 24 de  novembro é que este batalhão atingiu as bases de partida para o ataque, e como é comum as tropas brasileiras não substituíram as americanas na escuridão da noite, devido à burocracia e a meticulosidade das ordens escritas. Para este ataque, procurou-se obter surpresa evitando a preparação da artilharia.

            Às seis horas da manhã do dia 24 de novembro de 1944, o batalhão partiu sendo recebido por uma chuva de projéteis de morteiro e armas automáticas, enquanto a 9ª companhia, que seguia pelo lado esquerdo, era mantida em sua posição progredindo com enorme dificuldade.

            Na segunda  parte desta jornada, foi obtido  algum  progresso, mas a noite chegou e o objetivo não foi atingido, e à esquerda o batalhão americano (2º / 370º R.I.), havia conseguido progredir um pouco mais, mas recuou rapidamente, sob a pressão do fogo alemão, o que deixou o flanco esquerdo exposto. Ainda de madrugada uma nova ordem de ataque chegou ao batalhão brasileiro, com ordem de conquistar o mesmo objetivo, mas agora teria a sua frente ampliada em mais um quilômetro, que correspondia ao batalhão americano que foi duramente atingido e que não pode ser recuperado a tempo. Desta vez a preparação da artilharia não foi dispensada, e ao inicia o ataque a reação alemã foi pronta e poderosa, com a utilização de tanques isolados.

            Foi com muita dificuldade que a 8ª companhia conquistou La Cá e C. Viteline, as primeiras elevações antes do Monte Castelo, e a 7ª companhia aproximou-se de Abetaia, mas não logrou êxito em conquistá-la. No fim da jornada, a tristeza do fracasso deste ataque misturou-se com a alegria da conquista do Monte Belvedere pelos americanos. O inimigo tomara a decisão de deter a frente italiana de conquistar os Apeninos, e que este conjunto era fundamental  para o dispositivo defensivo, e ao final do dia 26 de Novembro,  lançaram um golpe de mão sobre a 9ª companhia brasileira,  que estava aos pé do Monte Castelo desalojando nossos soldado daquele local.

            Como consequência deste malfadado ataque, o reforço brasileiro ao 45º Grupamento Tático reverteu à Divisão de Infantaria Expedicionária, levando o General Mascarenhas de Morais a assumir o comando efetivo de toda a tropa da FEB, promovendo uma missão defensiva imediata, na qual foram empregados cinco batalhões na linha de frente.

            Concluímos como prováveis causas do fracasso destes ataques:

  1. determinação alemã em manter a posição a todo custo
  2. o efeito surpresa não obtido
  3. não houve apoio nem da aviação nem da artilharia
  4. desconhecimento total do terreno pela tropa que ocupou posições à noite para atacar ao alvorecer
  5. um ataque frontal é quase sempre desastroso, a não ser que exista superioridade arrasadora em homens e material empregados
  6. utilização de tropa cansada, sem tempo de descanso
  7. o flanco esquerdo estava exposto devido ao recuo da tropa americana
  8. insistência em repetir o ataque com a mesma tropa da véspera, aumentando a responsabilidade com a região evacuada pelo batalhão americano

A Conquista do Monte Castelo – 67 anos depois

 Artigo enviado pelo Pesquisador Rigoberto Souza Júnior – Secretário da ANVFEB-PE.

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O Monte Castelo é até hoje, aclamado como o maior feito da Força Expedicionária Brasileira no Teatro de Operações da Itália. Acredito que isto se deve ao fato de ter havido quatro ataques, até a sua conquista definitiva.

            Esta elevação, a mais alta da crista dos Apeninos, já havia se tornado uma fortaleza inexpugnável, que causava arrepios em nossos combatentes e nas tropas aliadas, pois ingleses, sul-africanos, poloneses e americanos, já haviam tentado conquistá-lo sem êxito.

            Além dos soldados mortos em ação, houveram muitos problemas com o socorro dos feridos, ou mesmo com o recolhimento dos corpos, pois os alemães, uma tropa impiedosa, tinham por hábito ligar os cadáveres a armadilhas, como as temidas body-traps conectadas às plaquetas de identificação(dog-tag), ou então deixavam na mão do morto uma granada já sem o pino de segurança, que qualquer movimento que fosse feito, explodiam  causando mais danos aos nossos pracinhas.

            Gostaria de reproduzir alguns depoimentos de italianos, que viveram aqueles momentos de horror durante a 2ª guerra mundial:

            Giuseppe Cechelli – Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            “Lembro- me que nesta época havia falta de tudo, principalmente comida, e os brasileiros nos davam “scatole”(caixas de ração) que continham biscoitos, chocolate, carne enlatada, e às vezes minha mãe fazia polenta, que todos apreciavam muito, vivíamos como uma grande família. Também me recordo dos negros americanos da 92ª DI, que fugiram e vieram se esconder na parte de cima da minha casa, e posteriormente chegaram os americanos brancos para procurá-los, e ao interrogar o meu pai, ele não balbuciou nenhuma palavra, mas fez um gesto com a mão apontando para cima, indicando que os mesmos estavam no sótão.

            Com relação ao Monte Castelo, não posso me esquecer principalmente do ataque de 21 de Fevereiro de 1945, quando eu e minha família podíamos ver tudo de nossa casa, pois nunca a abandonamos, e era possível ver o fogo cerrado também sobre Rochindos, mas o que mais nos aterrorizava não era o fogo da artilharia, mas os tiros das metralhadoras, que partiam de todos os lados, enquanto nos abrigávamos em um abrigo no porão.”

            Francesco Arnoaldo Berti – Guanella Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            A Família Berti está ligada à história da cidade, pois além de ser proprietária de grande extensão de terras, mas porque a casa onde mora faz parte do antigo burgo que formou a cidade. Guanella é formada por um conjunto de casa no sopé do Monte Castelo.

            “ Em 1944 eu tinha 18 anos e faziz parte da Brigada Giustizia e Libertà, e os primeiros aliados que encontramos foram os americanos e cerca de 20 a 30 dias depois chegaram os brasileiros e ficaram onde hoje é o nosso jardim, pois o front estava praticamente parado, e onde hoje está o Monumento Liberazione, era a “terra de ninguém.

            Os brasileiros começaram avançar e não deram conta que o front estava parado, nós também não sabíamos, pois só depois soubemos que algumas divisões foram desviadas para atender ao desembarque na Normandia e aqui faltavam soldados. As primeiras tentativas para a tonmada de Monte Castelo foram feitas com muitas perdas da parte brasileira, nossos campos ficaram recobertos de cadáveres, pois foram ataques mal preparados, e somente em Fevereiro de 1945 o Monte Castelo foi tomado pelos brasileiros.

            A brigada partigiana tinha a função de administração da cidade, e aquele momento não era de combate, e me recordo que da casa Di Franchi se via o Monte castelo, e se dava para escutar um bombardeamento de grande intensidade sobre o morro, e aquilo era um crescente ensurdecedor. Não se tinha ideia de onde vinham os tiros, talvez de cinco canhões, fazendo um barulho enorme, e logo em seguida nuvens negras surgiam, este tomento durou cerca de três horas, até que enfim os brasileiros conquistaram o Monte Castelo.”

            Fabio Gualandi – Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            “ Os americanos chegaram em Gaggio Montano no dia 13 de Outubro de 1944, uma sexta-feira, e na metade do mês seguinte chegaram os brasileiros, que procuravam um lugar para erguer seu acampamento, ocupando as casas maiores, e rapidamente faziam amizade com as senhoritas.

            Na cozinha do acampamento se fazia um pouco de tudo: mingau feito de leite em pó; churrasco feito de carne de boi ou porco; arroz com feijão preto, omelete feito com ovo em pó, mas o que eles mais apreciavam era um pão crocante, que era fabricado na Toscana, regado a muito café que era colocado em um recipiente grande. Os brasileiros levavam para a casa comida que alimentava uma centena de pessoas(uma companhia), os oficiais comiam numa mesa separada. Havia frutas, principalmente laranjas, e quando eles terminavam a população invadia o acampamento, e durante este tempo estes refugiados não passaram fome.

            Na época da guerra aqui era um pavor, vi mortos pelas estradas, os corpos ficavam ali até que viessem recolhê-los. A miséria era grande, a fome então… os brasileiros formavam um exército diferente, gostavam de estar em família, e chamavam as senhoras mais velhas de mamma”. Lembro-me das patrulhas à noite, e algumas eram divertidas, e alguns fumavam desavisadamente, acendiam fogueiras, e hoje penso como fomos nos expomos ao fogo inimigo.

            Pensei em seguir com os brasileiros, mas o meu pai não deixou, e nunca mais encontrei ninguém desta companhia. Temos um grande respeito e carinho pelos brasileiros, principalmente eu e minha família,  pelos dias difíceis que passamos na guerra e a maneira que não passamos fome com a ajuda humanitária deste Exército.”

            Este relato mostra que apesar das dificuldades enfrentadas por nossos Pracinhas, eles não perderam seus valores adquiridos em uma educação pautada no respeito ao próximo, característico do homem simples brasileiro.

Fontes: “E foi assim que a Cobra Fumou” – Elza Cansanção – 1987

            “ Nas trilhas da 2ª Guerra Mundial – Carmen Lúcia Rigoni – 2001

Monte Castelo – A Bravura do Soldado Brasileiro

 Artigo do Historiador Alessandro dos Santos Rosa.

Do sopé ao cume: a bravura destemida do soldado brasileiro

A efetiva participação da Força Expedicionária Brasileira foi marcada por alguns episódios que destacaram de forma explicita a bravura de homens, em sua maioria camponeses, de costumes simples, poucos estudos, porem, com o peito arraigado de patriotismo, coragem e destemor. Sentimentos de verdadeiros heróis e que deram mostras da valorosa participação do pracinha brasileiro no cenário da Segunda Guerra Mundial.

A Batalha de Monte Castello foi travada ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. Esta batalha marcou a presença da FEB no conflito. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram seis ataques, com grande número de baixas devido a vários fatores, entre os quais as temperaturas extremamente baixas. Quatro dos ataques não tiveram êxito, por falhas de estratégia. Situado a 61,3 km sudoeste de Bolonha (monumento ai Caduti Brasiliani), via Località Abetaia (SP623), próximo a Abetaia. Coordenadas 44.221799, 10.954227, a 977m de altitude.

A 1ª Divisão Expedicionária do Exército Brasileiro (DIE), em novembro de 1944, desviou-se da frente de batalha do Rio Serchio, onde vinha combatendo há pelo menos dois meses, para a frente do Rio Reno, na Cordilheira Apenina. O General Mascarenhas de Moraes, havia montado seu QG avançado na localidade de Porreta-Terme, cuja área era cercada por montanhas sob controle dos alemães, este perímetro tinha um raio aproximado de 15 quilômetros. Qualquer que fosse a movimentação. Ficava dificultada, pois as posições alemãs eram consideradas privilegiadas e submetiam os brasileiros a uma vigilância constante,. Estimativas davam que o inverno prometia ser rigoroso, além do frio intenso, as chuvas transformaram as estradas, já esburacas pelos bombardeiros aliados, em verdadeiros mares de lama.

O comandante das Forças Aliadas na Itália, o General Mark Clark, pretendia direcionar sua marcha com o 4º Corpo de Exército rumo a Bolonha, antes que as primeiras nevascas começassem a cair. Entretanto, a posição de Monte Castelo se mostrava extremamente importante do ponto de vista estratégico, além de dominado pelos alemães dava pleno controle sobre a região.

A frente italiana estava sob a responsabilidade do Grupo-de-Exércitos “C”, sob o comando do General Oberst Heinrich von Vietinghoff. A ele estavam subordinados três exércitos alemães: 10º, 14º e “Exército da Ligúria”, este último defendendo a fronteira com a França. O 14º era composto pelo 14º Corpo Panzer e pelo 51º Corpo de Montanha. Dentro do 51º Corpo estava a 232ª Divisão de Granadeiros (Infantaria), do general Barão Eccart von Gablenz, um veterano de Stalingrado.

A 232ª foi ativada a 22 de Junho de 1944, e era formada por veteranos convalescentes que foram feridos na frente russa e era classificada como “Divisão Estática”. Era composta por três regimentos de infantaria (1043º, 1044º e 1045º), cada um com apenas dois batalhões, mais um batalhão de fuzileiros (batalhão de reconhecimento) e um regimento de artilharia com 4 grupos, além de unidades menores. Esta formação totalizava cerca de 9.000 homens. A idade da tropa variava entre 17 e 40 anos e os soldados mais jovens e aptos foram concentrados no batalhão de fuzileiros. Durante a batalha final, ela foi reforçada pelo 4º Batalhão de Montanha (Mittenwald), que foi mantido em reserva. Os veteranos que defendiam essa posição não tinham o mesmo entusiasmo do início da guerra, mas ainda estavam dispostos a cumprir com o seu dever.

Foi delegado aos brasileiros a responsabilidade de conquistar o setor mais combativo de toda a frente Apenina. Porém havia um problema: a 1ª DIE era uma tropa ainda sem experiência suficiente para encarar um combate daquela magnitude. Mas como o objetivo de Clark era conquistar Bolonha antes do Natal, o jeito seria o de aprender na prática, ou seja, em combate.

Dessa Forma, em 24 de novembro, o Esquadrão de Reconhecimento e o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria da 1ª DIE juntaram-se à Força-Tarefa 45 dos Estados Unidos para a primeira investida ao Monte Castello. No segundo dia de ataques tudo indicava que a operação seria exitosa: soldados americanos chegaram até a alcançar o cume de Monte Castelo, depois de conquistarem o vizinho Monte Belvedere. Entretanto, em uma contra-ofensiva poderosa, os homens da 232ª Divisão de Infantaria germânica, responsável pela defesa de Castello e do Monte Della Torracia, recuperaram as posições perdidas, obrigando os soldados brasileiros e americanos a abandonar as posições já conquistadas – com exceção do Monte Belvedere.

O 2º ataque ao monte foi palnejado em 29 de novembro. Nesta contra-ofensiva a formação de ataque seria quase em sua totalidade obra da 1ª DIE – com três batalhões – contando apenas com o suporte de três pelotões de tanques americanos. Todavia, um fato imprevisto ocorrido na véspera da investida comprometeria os planos: na noite do dia 28, os alemães haviam efetuado em contra-ataque contra o Monte Belvedere, tomando a posição dos americanos e deixando descoberto o flanco esquerdo dos aliados.

Inicialmente a DIE pensou em adiar o ataque, porém as tropas já haviam ocupado suas posições e deste modo a estratégia foi mantida. Às 7 horas uma nova tentativa foi efetuada.

As condições do tempo mostravam-se extremamente severas: chuva e céu encoberto impediam o apoio da força aérea e a lama praticamente inviabilizava a participação de tanques. O grupamento do General Zenóbio da Costa no início conseguiu um bom avanço, mas o contra-ataque alemão foi violento. Os soldados alemães dos 1.043º, 1.044º e 1.045º Regimentos de Infantaria barraram os avanços dos soldados. No fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram à estaca zero.

Em 5 de dezembro, o general Mascarenhas recebe uma ordem do 4º Corpo: “Caberia à DIE capturar e manter o cume do Monte Della Torracia – Monte Belvedere.”[3] Ou seja, depois de duas tentativas frustradas, Monte Castelo ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, a qual havia sido adiada por uma semana.

Mas em 12 de dezembro de 1944, a operação foi efetivada, data que seria lembrada pela FEB como uma das mais violentas enfrentadas pela tropas brasileiras no Teatro de Operações na Itália.

Com as mesmas condições meteorológicas da investida anterior, o 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria fizeram, inicialmente, milagres. Houve inicialmente algumas posições conquistadas, mas o pesado fogo da artilharia alemã fazia suas baixas. Mais uma vez a tentativa de conquista se mostrou infrutífera e, o pior, causando 150 baixas, sendo que 20 soldados brasileiros haviam sido mortos. A lição serviu para reforçar a convicção de Mascarenhas de que Monte Castello só seria tomada dos alemães se toda a divisão fosse empregada no ataque – e não apenas alguns batalhões, como vinha ordenando o 5º Exército.

Somente em 19 de Fevereiro de 1945, após a melhora do inverno o comando do 5º Exército determinou o início de uma nova afensiva para a conquista do monte. Tal ofensiva utilizaria as tropas aliadas, incluindo a 1ª DIE, ofensiva que levaria as tropas para o Vale do Pó, até a fronteira com a França

Utilizando-se ainda da formação brasileira para a conquista do Monte e a consequente expulsão dos alemães, seria novamente a ofensiva batizada de Encore, ou Bis. Desta vez a tática utilizada, seria a mesma idealizada por Mascarenha de Moraes em 19 de Novembro.Assim, em 20 de Fevereiro as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo a Castello. À esquerda do grupamento verde-amarelo, avançaria a 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos, tropa de elite, que tinha como responsabilidade tomar o Monte della Torracia e garantir, dessa forma, a proteção do flanco mais vulnerável do setor.

O ataque começou às 6 horas da manhã, o Batalhão Uzeda seguiu pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal ao Monte e o Batalhão Sizeno Sarmento aguardava, nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Conforme descrito no plano Encore, os brasileiros deveriam chegar ao topo do Monte Castelo às 18 horas, no máximo – uma hora depois do Monte della Torracia ser conquistado pela 10ª Divisão de Montanha, evento programado para as 17 horas. O 4º Corpo estava certo de que o Castelo não seria tomado antes que Della Torracia também o fosse.

Entretanto, às 17h30, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento conquistaram o cume do Monte Castelo, os americanos ainda não haviam vencido a resistência alemã. Só o fariam noite adentro, quando os pracinhas há muito já haviam completado sua missão, e começavam a tomar posição nas trincheiras e casamatas recém-conquistadas. Grande parte do sucesso da ofensiva foi creditada à Artilharia Divisionária, comandada pelo General Cordeiro de Farias, que entre 16h e 17h do dia 22, efetuou um fogo de barragem perfeito contra o cume do Monte Castelo, permitindo a movimentação das tropas brasileiras.

Falhas estratégicas, terreno íngreme, tiros, lama, frio, bombardeios, o medo corroendo o estômago, a presença constante da morte, foram alguns dos detalhes que rondaram as mentes e corpos dos bravos heróis. Alguns pereceram, outros de medo sucumbiram, porem, a grande maioria, superando seus medos, com atos de bravuras, como coração de verdadeiros heróis, saíram do sopé e conquistaram o cume daquela elevação quase intransponível.

Não nos esqueçamos dos nossos pracinhas, não deixamos se perder esse legado deixado pelos verdadeiros heróis de nossa nação, não nos esqueçamos dos feitos daquele dia 21 de fevereiro de 1945. Vamos rememorar atos heróicos como esse para evitar que nossa sociedade seja escrava de sua própria ignorância.

“… povo que não tem virtude acaba por ser escravo….”[1]

Bibliografia

 

MORAES, João Baptista Mascarenhas de. A FEB pelo seu comandante. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005. v. 416.

SILVEIRA, Joaquim Xavier da. A FEB por um soldado. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2001.

 

JOEL, Silveira, O Inverno na Guerra – Objetiva,2005

PAES, Walter de Menezes: Lenda Azul – Bibliex 1992

ECKERT, José Edgar. Memórias de um ex-combatente: Relato de um ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Florianópolis: Insular, 2000.


[1] Parte do Hino Rio-Grandense.

Citações de Combate da Força Expedicionária Brasileira – Parte I

Citações de Combate são relatórios sobre o desempenho individual de algum militar envolvido em ações de combate. Para comemorar o aniversário da Tomada de Monte Castelo, vamos publicar algumas citações elogiosas que foram registrados na Revista Cruzeiro do Sul para louvar o desempenho de militares envolvidos nas operações vitoriosas sobre Monte Castelo e nas operações de contenção dos contra-ataques alemães.

Fonte: Cruzeiro do Sul, gentilmente cedidas pelo pesquisa Rigoberto Souza Júnior.

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Soldado AFONSO DE MELO, do I Regimento de Infantaria – IG – 267.486 – Estado Rio de Janeiro.

Em 23-2-1945

                A citação do Soldado AFONSO DE MELO tem dupla significação uma vez que exalta não só o valor combativo da gente brasileira como o profundo amor as tradições de sua terra.

                A subunidade atacara e se apossara do ponto cotado 958. Manter o terreno conquistado em condições básica para o prosseguimento das operações do Regimento, mesmo que lhe custasse os maiores sacrifícios. Dessa verdade bem sabia o Soldado Melo, tanto que lutou muito, lutou denodadamente para que todos os contra-ataques lançados pelo inimigo com o intuito de reapossar-se das posições perdidas, fossem rechaçadas. Foram quatro dias de tenaz esforço coroados de completo sucesso, assim, sem mácula, a pureza das ações dos homens de sua tempera. E tanto isso é verdade, que uma feita, quando o seu Comandante de Pelotão se deslocara com um Grupo de Combate para uma ação nas profundidades, o Soldado Melo, como observador avançado de seu Grupo, pressentira que cerca de 60 alemães se avizinhavam da posição. Sem perda de tempo, comandou o fogo do pelotão, solicitou ao Comandante de Companhia apoio de fogo de artilharia enquanto simultaneamente fiscalizava o consumo de munição, só permitindo tiros à curta distância. Numa legítima explosão de sentimento de responsabilidade, na fase mais critica do combate gritou, com toda a força de seus pulmões: “quem recuar eu fuzilo”. Ele mesmo abateu, a tiros de fuzil, um inimigo armado de metralhadora.

                Era um brasileiro que ali estava, defendendo o nome da tropa brasileira e honrando as belas tradições de sua gente.

                Mais tarde foi ferido com estilhaço de granada e evacuado para o Hospital.

                A ação excepcional do Soldado AFONSO MELO traduz, na sua grandiosidade, as mais perfeitas virtudes do Soldado do Brasil.

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3º Sargento OTTON ARRUDA, do 11º Regimento de Infantaria – IG – 199.186. Estado de Minas Gerais.

Em 17-2-45

                Fazia parte de uma patrulha que nesse dia saiu em missão de reconhecimento da reigão do VALE. Quando examinava uma das casas de ABETAIA é ferido por explosão de mina. Grandes sofrimentos físicos lhe produziram os ferimentos recebidos. O Tenente comandante da Patrulha, entretanto, faz-lhe um apelo para que suporte as dores em silêncio, de modo a não atrair o fogo do inimigo sobre os demais companheiros. Daí por diante o Sargento OTTON estoicamente cala o seu sofrimento, até o regresso da patrulha às linhas amigas.

                A fortaleza de ânimo, o espírito de sacrifício, a abnegação do Sargento OTTON merecem destaque especial, para reconhecimento da FEB na Itália.

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Cabo MANUEL CHAGAS, do I Regimento de Infantaria – IG – 305272 – Estado do Rio de Janeiro.

Em 23-2-45:

Já no curso do ataque do seu Pelotão à posição de LA SERRA, se distinguira, pelo ardor combativo, o Cabo Chagas. Todo o esforço empregara, a seu ânimo inflexível de brasileiro pureza em jogo para que a posição fosse conquistada e mantida. Suportara contra-ataques e trabalhara para rechaçá-los. E não parou aí a sua atividade.

                Certa vez alcançada uma posição inimiga passou a observar os arredores atentamente. Notou que dois alemães se aproximavam, deixou que ambos chegassem à porta do abrigo. Neste instante, apontou-lhes a arma, fê-los prisioneiros. Um terceiro adversário, incontinenti atirou-lhe uma granada de mão, que infelizmente não o atingiu. E neste ritmo prosseguiu a sua ação, em benefício do cumprimento integral da missão do Pelotão.

                A ação serena, inteligente, a capacidade profissional, o desassombro, a noção perfeita do cumprimento do dever, tornaram-no um exemplo bem digno da tropa brasileira.

Comemorações do Aniversário de Tomada de Monte Castelo!

 A Tomada de Monte Castelo faz aniversário no próximo dia 21. Enquanto o país celebra o Carnaval, o feito militar da Força Expedicionária Brasileira completa 66 Anos. A História de Monte Castelo é interpretada erroneamente por pessoas que não conhecem os fatos que antecedem aos desastrosos ataques de novembro e dezembro de 1944, e ainda tem visões distorcidas dessa vitória das tropas brasileiras. Monte Castelo ceivou a vida de centenas de soldados brasileiros e abateu o moral não apenas da FEB no front italiano, mas de toda a nação que aguardava ansiosa pelo desempenho de seus soldados.

                Portanto teremos como objetivo até o próximo dia 21, realizar uma análise das operações fracassadas e, principalmente expressar os Fatos Históricos que marcaram Conquista final em fevereiro de 1945, referenciando a memória dos que lá tombaram e exaltando os vitoriosos que sobreviveram a esse acontecimento.

A Morte de Frei Orlando

 Vamos publicar duas visões sobre uma das baixas mais sentidas pela tropa brasileira na Itália, infelizmente o Frei Orlando caiu ferido por um trágico acidente que tirou a vida de dos mais queridos integrantes da FEB.

 Essas visões são foram extraídas das seguintes publicações: De São João del-Rei ao Vale do Pó, / Frei Orlando, os dois de Gentil Palhares

 As duas visões são complementares e bastante interessante, narrando um triste acontecimento.

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Frei Orlando, Capelão do Batalhão, estivera pela manhã do dia 20 de fevereiro de 1945, no desempenho de seus deveres funcionais, em visita as posição da 4ª Cia., na região entre Falfare e Columbura. A zona da 4ª e a 6ª Companhias, esta indo de Falfare a Bombiana, eram as que estavam sendo mais castigadas pelos alemães. Por isso, Frei Orlando, no observatório do Batalhão, em Monte Dell’Oro, manifestou ao Major Ramagem, seu Comandante, a intenção de visitar também a 6ª Cia. Quis, então, atingir as posições dessa Companhia pelo caminho mais curto, que ia do observatório a casa M di Bombiana e desta a Bombiana. Mas o Major Ramagem não concordou com esse itinerário, pois, na ocasião, estava todo ele sendo pesadamente batido pelos alemães. Sugeriu ao Capelão que do observatório ganhasse a contra-encosta de Monte Dell’Oro e fosse até o PC do Batalhão em Docce, de onde poderia chegar às posições da 6ª por um caminho menos exposto.

Frei Orlando encaminhou-se para Docce pelo itinerário lembrado pelo Major e achava-se à margem do caminho que ligava o PC do Batalhão ao ponto cotado 789, a 300 metros de Bombiana, quando por ele sua eu num “jeep”, para esta última região. O Capelão, inteirado da direção da viatura, nela tomou lugar. No “jeep” já se encontravam o Cabo Gilberto Torres Ruas, motorista, um praça do II Batalhão e um militar italiano, posto à disposição do Regimento, para os serviços de transporte em montanha.

Frei Orlando, em caminho, depois de dizer o que fizera pela manhã e o que pretendia fazer, falava de uma irradiação feita pelos holandeses livres para a parte ocupada de seu país. A uma observação qualquer chegou a soltar uma das suas costumeiras gargalhadas. O “jeep” marchava lentamente pelo caminho conduzindo ao ponto cotado 789, quando, de repente, estaca, imobilizado por uma pedra. Prendia esta o eixo dianteiro. Os passageiros conseguem retirar a viatura, que é posta alguns metros além da pedra fatídica. Tomo a manivela do “jeep” e me esforço para removê-la. O italiano, no intuito de ajudar-me, recurva-se junto à pedra e também tenda retira-la a violentas coronhadas de sua carabina. Esta dispara. Frei Orlando, que se achava parado a uns três metros, é atingido pelo projétil, solta um grito e leva a mão ao peito, dá alguns passos à frente, tirando, ao mesmo tempo, com a mão direita, do bolso do casaco, o seu terço e balbuciando, às pressas, uma Ave-Maria. Corro para ele e o faço deitar-se à margem do caminho. A oração, apenas começada, é abafada pelo ofegar da agonia. Tudo isso, desde o fatal disparo, dura uns dez segundos.

Retorno rapidamente a Docce, em busca de socorro médico e trago o Capitão João Batista Pereira Bicudo, facultativo do Batalhão. Este pôde apenas verificar achar-se morto o Capelão, desde o momento, talvez, em que acabara de ser deitado à margem do caminho. O italiano abraçado ao corpo do Capelão, chorava e se lamentava. Um pastor das redondezas contemplava esta cena. O médico descobre-se, persigna-se e reza pela alma de Frei Orlando, no que é seguido pelo Capitão e pelo Cabo.

Eram, aproximadamente, 14:00 horas do dia 20 de janeiro de 1945…

obra: De São João del-Rei ao Vale do Pó

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No dia 21 de fevereiro, às 5h30 da manhã, foi dada a partida para a conquista definitiva do Monte Castelo. As notícias que chegavam era da impetuosidade dos nossos companheiros galgando resolutamente as posições a serem atingidas, inclusive o topo do Monte Castelo. Mas, por outro lado, afirmavam haver muitas perdas e muitos feridos. Frei Orlando, sabendo de tudo isso, ficou em profunda emoção e a todos externou que seu lugar era na frente, cuidando de seus soldados. Ele então reuniu seu equipamento, apanhou o estojo de hóstias e saiu morro acima, galgando a estrada. Houve tentativas de demovê-lo, mas foi em vão. Frei Orlando era teimoso demais quando se tratava de levar o conforto espiritual aonde quer que fosse. Pôs-se a galgar os caminhos tortuosos de Monte Castelo sob o bombardeio cerrado da artilharia de morteiros  e armas automáticas inimigas; avançando com cuidado, quando já estava nas imediações da 6ª Companhia, itinerário recomendado pelo seu comandante de Batalhão. Major Ramagem, a mais ou menos 300 metros de Bombiana, passa por ele um jipe que lhe deu carona, pois o destino de todos era o mesmo. Seus ocupantes eram os seguintes: capitão Francisco Ruas, cabo Gilberto, o motorista, e um sargento italiano (guia alpinista à disposição das tropas brasileiras). O jipe seguia normalmente quando a estrada piorou e o eixo dianteiro ficou preso por uma pedra. Vários recursos foram utilizados, inclusive com ferro da manivela. Infelizmente, o sargento italiano, com o intuito de ajudar, martela violentamente com a proteção metálica da carabina, que dispara e fere mortalmente o Frei Orlando, este triste fato foi largamente comentado por todo o front como uma das maiores perdas de nossa FEB. O lastimável fato aconteceu justamente quando Monte Castelo estava praticamente dominado. A lutar é renhida, o escalão bordeja, ataca, toma pé nos últimos 277 metros de altura. Súbito, um foguete luminoso corta os ares, sendo assinalado pelos postos de observação três estrelas verdes, que no código de sinais objetivo conquistado.

obra: Frei Orlando

Veteranos da ANVFEB-PE, Visitam o local do acidente que tirou a vida do Frei Olrlando

Frei Orlando é patrono do Serviço Religioso do Exército

Cartas enviadas do front pelo Frei

Placa lembra o local do acidente na Itália

A FEB – Lendas e a Verdade Histórica – Parte I

Ouvi de certoProfessor de História” que a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial foi medíocre, e que o país era pau mandado dos Estados Unidos, sendo que jamais poderia dizer que lutou na Europa… Segundo ele: “É ridículo estudar isso”.

Percebi que há milhares de jovens entusiastas da Segunda Guerra, que sabem tudo sobre esse evento, menos os detalhes da FEB, sigla que muitos até desconhecem!

Ouvi de um jovem estudante do ensino médio, que o Brasil fez foi vergonha quando na Itália…

Em um comentário do Orkut alguém citou: “O Ataque a Monte Castelo foi uma festa de ‘fogo amigo’…

Outro falava que a quantidade de baixas da FEB foi absurda…mais de 1000 mortos!

O Brasil tinha os uniformes parecidos com os dos alemães…E muitos morreram por causa disso!

Um jovem catarinense me enviou um email fazendo uma série de perguntas sobre a vida de alguns generais germânicos que lutaram na Guerra e seus destinos. Aproveitei e perguntei se ele conhecia o General Olympio Falconière, recebi como resposta: Ele era italiano? …Não respondi mais seus e-mails.

Um estudante do 5º Período de História me parou para dar os parabéns por ter lido um artigo meu publicando em um jornal do Recife… “Gostei muito do seu artigo sobre a FEB, não sabia que o Brasil tinha lutado na Segunda Guerra.” 5º Período? De História? Meu Deus!!

Com relação a William Waack… Não comento, pois como historiador ele é um excelente jornalista…

Outro comentário:  faltou soldado para a FEB e ficaram convocando o povo que passava na rua na frente dos quartéis…

Então vamos lá! Chega de MITOS SOBRE A FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA…SÓ HISTÓRIA…FATOS!

É importante colocar uma coisa: devemos separar a atuação do governo brasileiro à época da Segunda Guerra da atuação da Força Expedicionária Brasileira desde a sua formação até a sua desmobilização, portanto a análise deve ser realizada sob duas ópticas distintas. A primeira delas é o ambiente em que a FEB foi criada e as ações governamentais que foram estruturadas para que o Exército Brasileiro formasse uma Divisão para lutar, sabe lá Deus aonde, e se iria lutar. A segunda visão, a militar, nos proporciona a seguinte reflexão: qual foi e como foi o papel da FEB como força empregada no Teatro de Operação e sua importância total no cenário da guerra.

Primeira resposta: sábado 18/01

I Batalhão do 11º RI em Monte Castelo – Relatos de uma Infeliz Operação.

Segue abaixo a descrição do Capitão Adhemar Rivermar de Almeida, então S/3 do 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria sobre a atuação de sua unidade nas operações do dia 13 de dezembro de 1944, com o objetivo de tomar Monte Castelo no Teatro de Operações da Itália. A descrição abaixo se encontra registrado no livro Montese – Marco glorioso de uma trajetória – Coronel Adhmar Rivermar de Almeida.

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Com a ocupação de nossas posições pelo III/6º. Regimento de Infantaria (Batalhão Silvino), segui, acompanhando o Major Jacy, para a cidade de Porreta-Terme, Quartel-General da 1ª DIE, onde o Tenente Eurico Capitulino, sempre eficiente e acolhedor, fez-nos lembra de que há muito não comíamos coisa alguma. Estômago cheio, atirei-me a um canto, dormindo de imediato.

O dia 04 foi todo ele ocupado no reagrupamento do I/11º. Regimento de Infantaria, cada elemento procurando reencontrar sua fração de tropa, reaver armamento ou peças de equipamento.

O General Mascarenhas, depois de séria conversa com os oficiais do Batalhão, apresentou-se aos Capitães João Tarcísio e Carlos Meira Mattos, designados para comandar, respectivamente, as 1ª e 2ª Companhias de Fuzileiros.

Nesse mesmo dia, à tarde, era o Batalhão, praticamente recomposto, transportado para a localidade de Granaglione, onde, como reserva de Divisão, acantonou.

Na condição de Unidade de Reserva, o Batalhão tinha de conservar enorme flexibilidade, necessitando pormenorizado reconhecimento de toda a frente, a fim de acompanhar o desempenho de todas as Unidades empenhadas, na eventualidade de substituí-la, reforçá-las, ultrapassá-las ou acolhê-las.

Tendo em vista a determinação do IV Corpo de que um novo ataque fosse efetuado, coube aos brasileiros, novamente, a conquista de Monte Castelo e o isolamento de M. Della Torrácia, componente do Maciço M. Gorgolesco – M. Belvedere. Para tal, foi organizado um Grupamento de Ataque, postos nas seguintes Unidades:

1º Escalão – 1º RI (menos o I Batalhão e a Cia de Obuses)

Reserva: – III/11º RI

Cobertura de flanco: I/11º RI (Menos a Cia do Capitão Hésio)

A Companhia do Capitão Hésio (3º Cia) recebeu a missão de “em íntima ligação com o 1º regimento de Infantaria, cobrir o flanco E do ataque na região de Fálfara e limpa as regiões de Abetaia e Valle”.

Para o cumprimento da missão recebida, iniciamos, no dia 06 de dezembro, já refeitos do choque que sofremos, mais certos do que nos cabia executar e com mais tempo para reconhecimento do terreno e do inimigo, os estudos para a substituição do III/11º Regimento de Infantaria, o que veio a se concretizar na noite do dia 08 para 09.

Depois daqueles dias de “em reserva” voltava o Batalhão à primeira linha. Era inevitável a emoção de todos, afinal, sabiam lá o que os esperava? Novo desastre (O 11º RI sofreu baixas e acabou recuando na primeira fez que entrou na linha de combate) ou início de uma reabilitação por todos tão desejada? A única coisa de que realmente tinham certeza era que “a cobra continuava fumando.”

Os responsáveis pelo transporte de tropa, impacientes, não se cansavam de reclamar:

 – Vamos, rapazes, andem com isso. Temos outros transportes a fazer.

As camas-rolos e as bagagens ligeiras ia se amontoando debaixo dos bancos laterais dos caminhões que os iriam transportar até bem mais pertos das posições avançadas. Ia ser preciso, outra vez, subir o morro a pé.

Finalmente o comboio deslocou-se, e até que a estrada não estava ruim. A Engenharia estava cuidando bem dela.

A chuva fina e a subida por aquelas trilhas íngremes e enlameadas, onde os galochões desapareciam completamente, exigiam dos pracinhas um dispêndio que um ajudasse o outro naquela terrível escalada. De repente, uma praga ou um palavrão, preferido por um daqueles homens sujos de barro e encharcados de suor e chuva, na maioria das vezes dirigidos àquelas mães que haviam gerado dois monstros: Hitler e Mussolini.

A tropa a ser substituída nos esperava, pronta e ansiosa por descer:

 – Custaram a chegar.

 – A subida está difícil e os alemães andaram nos amolando. Como vão as coisas aqui?

 – Até que o tedesco tem estado camarada nestes últimos dias.

 – Antes assim.

 – Mas se ele manjou a chegada de vocês, vão ter morteiros e Lurdinhas sem parar

 – Que negócio é esse de Lurdinha?

 – Bem se vê que vocês são do Laurindo (nome pejorativo). Todos o restante da FEB já sabe que lurdinha é uma metralhadora alemã que dá mais de mil tiros por minuto.

 – Mas, por que lurdinha?

– É o nome da namorada de um campo que quando começa a fala não pára mais; uma verdadeira matraca. Ele contou a história e, por isso, a metralhadora alemã foi chamada de lurdinha. E pegou…Já tem até música.

E o pracinha, mesmo sem que lhe fosse pedido, passou a cantarolar em voz baixa:

“Você já, Iaiá?

Você já viu, Ioiô?

A lurdinha no fronte cantar?

A tropa fica alerta para avançar

Ouvindo a voz da metralha:

 – Vamos atacar!

                A voz de comando

                É firme e segura,

                Ninguém tem paura

                Corre e toca!

                Perde até a roupa.

                               – Pra brasileiro, alemão é sopa!”

Os que não foram para os postos avançados instalaram-se para dormir: cada um acomodou-se num canto, pelo chão.

De duas em duas horas, os homens que iam substituir os dos postos avançados eram acordados. Os demais continuavam dormindo um sono tão pesado que nem percebiam os ratos que passeavam por cima dos seus corpos.

Todos os preparativos haviam sido feitos com minúcias. A madrugada, que naquele dia 12 de dezembro viera coberta por densa cerração, já encontrara as duas Companhias de Fuzileiros articuladas na base de partida.

O ataque foi desencadeado de surpresa. Os relógios haviam sido acertados para que a partida se desse precisamente às seis horas da manhã. Não houve, portanto, preparação de artilharia e nem sinal destinado a marcar o início da operação.

Todas as ordens foram cumpridas à risca pelos dois Capitães. A Segunda conseguiu ocupar Fálfare, seu objetivo inicial, com feridos e desaparecidos. Entre os últimos encontravam-se o Tenente Emílio Varoli que, vítima de pé-de-trincheira, não pode mais mover-se do lugar; sendo aprisionado pelo inimigo. Esse valente e culto oficial da reserva tinha sido professor de italiano para um grupo de oficiais, do qual fizemos parte quando nossa estada na Tenuta de San Rossare.

A progressão da Primeira iniciou-se bem, com dois pelotões em primeiro escalão e o terceiro, mais recuado, como reserva. O capitão Bueno marchava no centro do dispositivo. Ainda não tinha avançado muito e já era impressionante a ação desencadeada pelo inimigo. Como pressentiram o ataque, ninguém sabe! O terreno limpo e baixo, enlameado e escorregadio, facilitava a ação dos inimigos que, atentos, em suas posições dominantes, nada deixavam escapar.

Os atacantes encontravam-se agora no centro de uma concentração de morteiros, complementadas por fogos rasantes de metralhadoras, as terríveis lurdinhas, como seus incontáveis tiros por minuto, em flanqueamento.

A barragem de fogo frente a Abetaia estava se constituindo em uma verdadeiro inferno.

Apesar de tudo, o ataque progredia. Lentamente, mas progredia. Rádio de mão inutilizado por deslocamento de ar causado por uma forte explosão, cabos telefônicos arrebentados pelo contínuo bombardeio do inimigo e mensageiro ferido por tiro de metralhadora, o Capitão Bueno desconhecia o que estava acontecendo com o ataque principal.

Os densos e ajustados fogos com que os alemães batiam totalmente o Corredor da Morte, como começava a ser conhecido o vale que levava à Abetaia, fizeram com que os dois pelotões de primeiro escalão ficassem detidos, aferrados ao terreno. Ademais, minas explodiam por toda parte.

O Capitão Bueno, ciente da situação, impulsionou o pelotão do segundo escalão e desbordou os elementos detidos. Era impressionante ver-se a sua figura ágil a apontar, constantemente, para as primeiras casas de Abetaia.

Incrível o que estava acontecendo. Com a passagem do Capitão Bueno para frente do escalão de ataque um melhor aproveitamento de seu pelotão de metralhadoras, mesmo sem terem aniquiladas as resistências inimigas, o Capitão e vários de seus homens já se encontravam no interior da posição alemã.

Os demais, colados ao solo, dentro das crateras e Saliência do terreno que lhes serviam de abrigos, sentiam dificuldade em até mesmo ouvir a voz de seus comandantes de grupos de combate ou pelotões.

Do local em que momentaneamente se abrigou, o Capitão Bueno viu, al alcance de uma granada de mão, a boca de uma Camata donde o inimigo manipulava uma metralhadora. Não trepidou. Retirou do bornal uma granada, arrancou rapidamente o grampo de segurança e, num ímpeto audacioso, arremessou o explosivo, que acertou em cheio a guarnição da metralhadora. Chegou a ver o alemão que manejava a metralhadora disparar em sua direção e, súbito, sentiu como se houvesse sido sacudido violentamente pela ponta de uma picareta. É que, da rajada, uma bala atingira o seu pulmão e arrebentara-lhe várias costelas. Tombou em estado quase de choque, porém com lucidez para, pouco depois, estranhar ter sido atingido. E o que pareceu mais incompreensível era ter passado tantos minutos ouvindo o constante sibilar das balas, como se estivessem a roçar-lhe os ouvidos. Tentou reagir. Quis levantar, mas sentiu dores muito fortes. Consultou o relógio, no pulso também ensanguentado. Eram nove horas. O Capitão Bueno sentiu que ia perder a vida, com o sangue saindo sem cessar.

O ataque foi suspenso por volta das 14h 30min. A decisão causou alguma surpresa, porém, na realidade, nada mais restava a fazer: O I/11º Regimento de Infantaria recebeu ordens de retornar às suas posições originais.

Do nosso observatório, tínhamos os olhos fixos no corpo inanimado do Capitão Bueno, ainda na mesma região de casas um pouco à esquerda de Abetaia. Então avançamos, o Major Darcy e eu, até a estrada por onde estavam sendo recolhidos os homens do Batalhão. Um soldado cruzou por nós, estafado pelo esforço da dura jornada que estava vivendo. Vinha, contudo calmo.

 – Soldado, disse o Major: tens coragem de retornar à terra-de-ninguém?

 – Por que não, Major? – Respondeu, entre surpreso e curioso.

 – Pois não vês lá no fundo, à esquerda das casas de Abetaia, caído por terra o corpo de um homem?

 – Sim, o que se encontra de bruços – disse o soldado, após ter utilizado o binóculo que fora cedido pelo Major.

 – Exatamente. É o teu Capitão! Tens coragem de ir busca-lo? – prosseguiu o Major em tom quase de exortação.

Iluminou-se o olhar do jovem soldado, que se tornou mais vivo e aguçado. Fez meia volta e, incontinenti, partiu em passos rápidos.

Voltamos ao Observatório, a fim de acompanhar a sua progressão. Era um bravo que, desassombradamente, em plena luz do dia, progredia, ora rastejando, ora em lances, de um abrigo para o outro, com o intuito de buscar outro bravo.

Mas, infelizmente, quando o soldado já estava na terra-de-ninguém, quase duas centenas de metros do corpo de seu Capitão, foi caçado por um tiro certeiro que o fez tombar. Era mais um herói, ficávamos ignorando – pois nem mesmo seu nome havíamos perguntado na hora que lhe fora cometida a difícil missão.

Várias tentavas foram realizadas para o remover o Comandante da 1ª Companhia para as nossas linhas. A primeira patrulha, para isso por mim organizada, foi constituída dos voluntários Sargento Max Wolf, Cabo José Leite Rios e soldados Manoel Prates Filho e Antônio Barbosa Lima. Não tendo conseguido êxito, regressou. Foi logo substituída por outra, sob o comando de Max Wolff, também sem resultado. Também tentou-se o envio de padioleiros, mas a remoção não ainda possível e a solução foi esperar pela noite.

Por vezes, sobrevinham instantes de lucidez ao Capitão Bueno. Num desses momentos, percebeu a aproximação de vozes e, logo depois, viu um alemão se deslocava de uma casamata para outra. Trazia a metralhadora de mão apontada e com a preocupação de não ser surpreendido. Avançou em sua direção e, quando alcançou, fitou-o interrogativamente, conservando a metralhadora apontada para o Capitão Bueno e o tacão da bota quase a lhe tocar o rosto. O Capitão fez um esforço imenso para manter-se móvel, prendendo ao máximo a respiração, á que os teutos tinham a mania de dar o tiro de misericórdia. Sentiu um enorme alívio quando viu o alemão afastar-se, depois de lhe ter retirado a pistola.

Não perdeu, entretanto, a esperança de retornar. Quando surgiram as primeiras estrelas, essa esperança aumentou. Tentou levantar-se, mas foi aí que compreendeu a gravidade do seu estado. Não tinha forças. Aumentara incrivelmente a sede. Um gosto forte de sangue infundo-lhe a boca. Mas mesmo assim, saiu cambaleando, procurou orientar-se em direção às linhas brasileiras. Após deslocar-se alguns metros, recrudesceram as dores e a sede tornou-se um castigo monstruoso. Inúmeras vezes tentou levar as mãos ao solo tentando encontrar na lama um pouco de água, pelo menos uma sensação de umidade para molhar os lábios. Apoderou-se dele um estado de inanição e o Capitão Bueno tombou inconscientemente junto a um pequeno riacho.

Ingentes esforços foram feitos durante toda a noite para recuperar os homens que haviam ficado presos ao chão do Corredor da Morte: patrulhas sem conta saíram naquela direção, recuperaram mortos e feridos, mas conseguirem localizar o Capitão Bueno.

Alguém aguardava impacientemente o regresso dessas patrulhas: o soldado Sérgio Pereira, o seu ajudante de ordens. Pela madrugada, sem dizer a ninguém, pegou uma metralhadora, encheu o bornal de granadas e saiu à procura de seu Comandante. Partiu com a decisão de não voltar sem ele. Chegou até o local onde o havia visto cair. Não encontrou. Não se conformou e passou a esquadrinhar o terreno em várias direções, pois sabia que não havia a possibilidade de estar muito distante dali. Finalmente o encontrou e decidiu carrega-lo às costas. Andou algumas dezenas de metros, mas notou que aquela penosa marcha por terreno tão irregular fazia com que aumentasse as dores e os gemidos de seu Capitão.

Resolveu então deixa-lo num ponto mais protegido e ir buscar, junto ao Posto de Saúde do Batalhão, dois padioleiros para o auxiliar naquele divina tarefa de trazer de volta seu heroico Comandante. E esse bravo, destemido e leal ordenança somente sossegado no momento em que viu o Capitão Bueno ser passado da maca dos padioleiros para cima de uma cama de campanha, recebendo o primeiro tratamento médico.

O I/11º Regimento de Infantaria perdeu 33 homens nessa jornada; e o Major Darcy demonstrou toda a sua coragem e destemor; numa afirmativa de plenas condições de permanência no Comando do Batalhão, onde era estimado e respeitado.

Capitão Ademar

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